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Nutrição consciente conquista adeptos

Por JEFF GORDINIER

Pode uma disciplina alimentar desenvolvida por monges budistas nos ensinar a manter a saúde, aliviar o estresse e eliminar muitas das neuroses que associamos à comida?

A prática conscientiza sobre a ânsia com que, por reflexo, nos lançamos às refeições. Resista a ela. Deixe o garfo sobre a mesa. Mastigue devagar. Pare de conversar. Preste atenção à sensação e finalidade de cada bocado. Continue assim ao longo de uma refeição e você experimentará os prazeres e frustrações, afins à abertura de um terceiro olho, dessa prática chamada alimentação consciente.

"É a antidieta", disse o pediatra Jan Chozen Bays, professor de meditação em Oregon e autor de "Mindful Eating: A Guide to Rediscovering a Healthy and Joyful Relationship With Food" ("Alimentação Consciente: um Guia para a Redescoberta de uma Relação Saudável e Alegre com a Comida"). "O problema fundamental", disse ele, "é que nos tornamos inconscientes quando comemos".

A nutricionista Lilian Cheung, da Universidade Harvard, tem estimulado as empresas e prestadores de serviços da saúde a experimentarem a técnica.

"O ritmo de vida está se tornando cada vez mais rápido, então realmente não temos a mesma consciência e a mesma capacidade de nos examinarmos", disse Cheung, coautora, em parceria com o monge budista vietnamita Thich Nhat Hanh, de "Savor: Mindful Eating, Mindful Life" ("Saboreie: Alimentação Consciente, Vida Consciente").

"É por isso que a alimentação consciente está ganhando espaço. Precisamos olhar para nós mesmos e dizer: 'Meu corpo precisa disso? Por que estou comendo isso? Será só porque estou triste e estressado?'."

O mosteiro Blue Cliff, cerca de 110 km a noroeste de Nova York, se abre duas vezes por semana para leigos interessados em participar gratuitamente de um "dia da consciência". Numa dessas reuniões em janeiro, os visitantes assistiram a uma conferência em vídeo de Thich Nhat Hanh. No almoço, ninguém conversou. Um comprido bufê oferecia alimentos vegetarianos preparados por dois monges.

"É muito mais desafiador do que imaginaríamos", disse Carolyn Cronin, 64, uma participante frequente. "As pessoas estão acostumadas a comer rápido demais. Esta é uma prática de parar, e não percebemos o quanto não estamos parando."

Entre nutricionistas como Cheung, a alimentação consciente desperta o interesse como uma possível barreira psicológica contra o excesso de comida.

"Thich Nhat Hanh sempre fala sobre o nosso desejo como um bebê chorão que tenta chamar a sua atenção", disse ela. "Quando o bebê chora, a mãe embala o bebê para tentar acalmá-lo imediatamente. Ao admitir e abraçar nossos desejos por meio de algumas respirações, podemos impedir nosso piloto automático de chegar até o pote de sorvete ou até o saco de batatas fritas."

As pessoas comuns não podem se dar ao luxo de ruminar diante do intenso aroma do molho "sriracha" no monastério. "A maioria de nós não vai virar monge budista", disse o médico holístico Michael Finkelstein. "O que aprendi é que isso precisa funcionar em casa."

Ele e outros sugerem que as pessoas deveriam começar com pequenos passos. "Não seja duro demais consigo mesmo", disse Cheung. "Não se espera que você seja capaz de ligar o seu botão da consciência e que consiga fazer isso 100%. É uma prática pela qual você continua trabalhando."

Na sede do Google, em Mountain View (Califórnia), centenas de trabalhadores apareceram quando Thich Nhat Hanh esteve por lá para um dia da consciência, em setembro. Um almoço vegano de uma hora, sem palavras, é agora um evento mensal na empresa.

"Alguém vai dizer: 'Eu comi muito menos'. E outro alguém dirá: 'Sabe, nunca tinha reparado como a rúcula tem sabor picante'", disse Olivia Wu, chef de cozinha da empresa.

E esse pode ser um ingrediente crucial para que a alimentação consciente ganhe mais espaço: o sabor.

"Muita gente atualmente se encontra em uma relação conflituosa com a comida, o que é muito trágico", disse Bays. "Comer deveria ser uma atividade prazerosa."

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