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Ator indiano é secundário nos EUA

Por KATHRYN SHATTUCK

"Hollywood não está preparada para um protagonista indiano", declarou Irrfan Khan recentemente.

Ele estava com dor de garganta e fadiga, após uma maratona de pós-produção do filme "Life of Pi", de Ang Lee. Sua performance aclamada no seriado da HBO "In Treatment" na temporada passada foi seguida por papéis coadjuvantes em dois filmes americanos importantes: "Pi" e "O Espetacular Homem Aranha", dirigido por Marc Webb. Os dois filmes exigiram deslocamentos cansativos de Khan de sua casa, na Índia, para estúdios em Taiwan, no Canadá e nos Estados Unidos.

"Vai levar tempo para Hollywood ser livre para escrever uma história sobre um indiano, a não ser que seja sobre o lado sombrio da Índia, como em 'Quem Quer Ser um Milionário'", falou o ator, aludindo ao filme de Danny Boyle de 2008, no qual ele fez o detetive que interroga um rapaz pobre suspeito de ter trapaceado num game show. "Eles não querem enxergar uma Índia normal. Isso não proporcionaria o elemento chocante de que precisam para os filmes."

Khan diz que já deixou de buscar a fama ou a fortuna (ele já tem as duas coisas). Sua lista atual de desejos inclui um leque amplo de opções de papéis, até como herói de ação. Uma carreira que transcenda raça, religião e país.

"Paan Singh Tomar", seu trabalho mais recente falado em hindi, é baseado na vida de um campeão da corrida que, inconformado com o fato de o governo trair seu vilarejo pobre, torna-se bandido.

Em 1987, depois de se formar na escola de teatro, Khan atuou em "Salaam Bombay!", de Mira Nair. Vários seriados de televisão mais tarde, quando estava prestes a desistir, ele foi escolhido para o papel principal da aventura "Um Guerreiro Solitário" (2001), de Asif Kapadia. Dois anos depois, "Maqbool", a versão de "Macbeth" criada por Vishal Bhardwaj, transformou Khan em galã no momento em que ele passou os dedos sobre os lábios entreabertos da atriz Tabu, através de um véu.

Embora ele costume fazer papéis de galã em filmes indianos, os diretores de Hollywood, impressionados com seu talento por transmitir nuances, têm escolhido Khan para papéis de homens comuns. O público americano conheceu-o em "Nome de Família" (2007), a adaptação feita por Mira Nair de um romance de Jhumpa Lahiri sobre um casal originário de Bengala que se muda para Nova York.

Foi Dan Futterman, produtor executivo de "In Treatment", quem levou Irrfan Khan à televisão americana no papel elogiado pela crítica de Sunil, viúvo bengalês enlutado e deslocado vivendo no Brooklyn. Para o papel, o ator, que está com 45 anos, foi envelhecido em mais de uma década com a ajuda de maquiagem.

Ang Lee disse que foi "uma opção evidente" procurar Khan para "Life of Pi", baseado no romance "A Vida de Pi", de Yann Martel, sobre um garoto náufrago indiano que vagueia num bote salva-vidas no Oceano Pacífico na companhia de um tigre de Bengala. "Achei que o livro tinha uma voz muito madura, não a de um adolescente", falou o diretor, explicando porque escolheu Khan para representar o Pi adulto, que narra o filme.

Poderá Khan tornar-se o primeiro indiano a protagonizar um filme comercial americano? "As mulheres o acham irresistível, se esse é o critério", falou Webb, citando desmaios no set de filmagem de "Homem Aranha".

"As pessoas querem ver grandes atores, um rosto interessante, e ele é as duas coisas", Ang Lee acrescentou. "Geralmente é o ator quem se debruça em direção à plateia. No caso de Irrfan, é possível que a plateia precise debruçar-se um pouco em direção a ele."

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