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Nova geração é complexa e diversa

Um colosso de argila para ter vida curta

Por RANDY KENNEDY

Uma pessoa qualquer que tivesse visitado o New Museum, em Nova York, no início de fevereiro poderia ter imaginado que o quarto andar estivesse em obras. Era quase impossível andar por ele sem pisar num pedaço de madeira ou numa pilha de entulho.

Mas havia algo de incomum nessa cena de destruição: no meio de tudo, uma torre cinzenta grosseira, feita do que aparentava ser cimento, erguia-se do piso até o teto.

Intitulado "A Person Loved me" ("Uma Pessoa me Amou"), o objeto é uma das atrações principais da "The Ungovernables" (Os Ingovernáveis), a trienal do museu, que está em curso. Foi feito principalmente com argila, um dos mais antigos e mais simples materiais usados no mundo para fazer arte. Uma equipe de seis homens e mulheres da Argentina montou, moldou e esculpiu a peça, trabalhando sete dias por semana durante um mês sob a direção de um escultor de 31 anos chamado Adrián Villar Rojas.

Criado e educado em Rosário, a terceira maior cidade da Argentina, Rojas foi escolhido para representar seu país na Bienal de Veneza de 2011, onde suas esdrúxulas estruturas de argila viraram um sucesso inesperado.

Ele começou a usar argila porque custava pouco, era fácil de encontrar e seu caráter grosseiramente físico formava um contraste com o visual etéreo de muitos trabalhos de influência conceitualista de artistas argentinos respeitados. Mas a própria argila começou a moldar suas ideias sobre o tipo de trabalho que ele queria criar.

"Veja isto daqui: só terminamos isto ontem", falou, mostrando a um visitante uma parte da escultura. De cor cinzenta e marcada por fendas profundas, parecia algo que acabara de ser desenterrado por arqueólogos.

"É uma ruína instantânea", explicou Rojas, ele próprio parecendo quase um objeto antigo, com cabelos e óculos recobertos de pó de argila. "Essa é a dádiva que o material nos faz."

Ele vê os trabalhos como ruínas do futuro -escombros de civilizações ainda por vir.

Como muitas ruínas, a própria escultura será demolida pouco após o término da trienal, em 22 de abril, tanto porque não existe uma boa maneira de desmontá-la para tirá-la do museu quanto porque, nas palavras de Rojas, "eu gosto da ideia de não possuir um conjunto de trabalhos".

A equipe que ajuda a construir as monstruosidades dele se parece menos com um grupo de assistentes de estúdio quanto com uma banda, da qual Rojas seria o vocalista e um dos compositores.

Ao longo dos últimos dois anos, enquanto sua fama cresce, o grupo viaja como uma banda numa turnê extensa: para Equador, Alemanha, México, Colômbia, Itália, França. E, agora, Nova York. Em cada local, o grupo cria trabalhos como uma performance improvisada. Embora as esculturas não sejam improvisadas, elas incorporam ideias de todas as pessoas do grupo e evoluem enquanto são construídas.

O modus operandi do grupo -ficar em movimento constante e, aparentemente, ir criando suas próprias regras ao longo do caminho- é uma das poucas coisas facilmente identificáveis que ele compartilha com os 34 artistas, grupos de artistas e coletivos que compõem a trienal.

A curadora da trienal, Eungie Joo, passou um ano e meio percorrendo mais de 20 países para escolher os participantes, em sua maioria nascidos entre meados dos anos 1970 e meados dos anos 1980. Num dia, enquanto almoçava com Rojas no saguão do museu, ela disse que a primeira coisa que precisou reconhecer foi que essa geração "é diversificada e complexa demais para permitir generalizações".

Mas Joo considerou que esses artistas estão unidos pelo fato de terem alcançado a maioridade numa era de desilusões, muitos deles em países e regiões que tinham derrotado o colonialismo apenas para sofrer sob ditaduras, crises econômicas globais e outros problemas políticos e culturais endêmicos (com seu foco forte sobre o Oriente Médio, a Ásia e a América do Sul, a trienal inclui apenas três artistas plásticos nascidos nos EUA).

Embora Joo tenha iniciado sua busca antes do movimento Ocupe Wall Street e dos primeiros levantes da Primavera Árabe, o espírito que impulsiona os dois movimentos está na mostra.

O artista brasileiro Jonathas de Andrade, 29, que participa da trienal, explicou assim sua geração: "Quando paramos de nos mover, somos um quadro simples. Quando nos movimentamos, produzimos reflexões constantes. Nós nos adaptamos. Interferimos. Provocamos".

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