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Falsificadores de euros prosperam na Itália

Por RACHEL DONADIO

GIUGLIANO IN CAMPANIA, Itália - Enquanto a Europa debate a conveniência de autorizar o Banco Central Europeu a emitir mais dinheiro para estimular a economia, falsificadores em Nápoles imprimem notas de euros fajutas.

Mais de metade das cédulas falsas de euros retiradas anualmente de circulação pelos Bancos Centrais europeus -um volume de 550 mil a 800 mil notas- vem da região da Campânia.

A Itália parece ter um talento artesanal especial para as artes gráficas, embora as autoridades também tenham descoberto operações ilícitas na França, na Espanha, no Leste Europeu e na América do Sul. Os especialistas mais hábeis no ofício podem ser encontrados em Giugliano e arredores.

"Na Itália, existe uma grande, antiga e augusta tradição: aqui fazem dinheiro falso, bem feito", disse o coronel Alessandro Gentili, chefe da Unidade de Combate à Falsificação de Divisas dos Carabinieri, em Roma. "Giugliano ainda é a capital. Ela tem os melhores profissionais."

Apesar de uma grande ação policial em 2009 em 162 locais de Giugliano e na Calábria, resultando em 109 prisões, Gentili diz que a falsificação prossegue, e essa tradição -como a viticultura, a cerâmica, a tecelagem e outras artes- costuma passar de pai para filho.

Embora a Campânia seja dominada pela Camorra, violenta rede do crime organizado, as autoridades locais dizem que a falsificação na verdade é uma linha de atuação periférica para a bandidagem, que prefere atividades mais lucrativas, como o descarte de resíduos tóxicos, o narcotráfico e as oficinas de costura clandestinas.

"O crime organizado certamente fica com uma fatia dessa atividade e ele pode intervir para regulamentar seu uso no mercado, porque tem interesses econômicos na área", disse o juiz da Suprema Corte Raffaele Cantone, que no decorrer da carreira fez abrangentes investigações contra a Camorra.

A unidade antifalsificação dos Carabinieri, criada em 1992, foi a primeira do gênero na Europa. Antes do euro, as prensas italianas, especialmente na região de Nápoles, se especializavam em falsificar liras, dólares e francos suíços e franceses, segundo Gentili.

Para os olhares destreinados, os euros falsos são razoavelmente convincentes. Mas, na verdade, ficam um pouco diferentes: são impressos em papel sem marca d'água e seus hologramas prateados não captam a luz do mesmo jeito que os euros verdadeiros.

As autoridades descobriram os primeiros euros falsos dias depois da entrada em circulação da moeda, em janeiro de 2002. Desde então, o euro se tornou uma importante moeda global e cédulas falsificadas acompanham as correntes da imigração e do narcotráfico internacional.

Nos últimos anos, as autoridades descobriram euros falsos na Bulgária, na Colômbia, na Rússia, na Turquia, no Irã e no Iraque, onde o dinheiro vivo é parte importante da economia e caixas de bancos e lojas não estão tão acostumados com as cédulas verdadeiras.

Às vezes, imigrantes da África e da América Latina compram propositalmente euros falsos na Europa e tentam usá-los em seus países para adquirir imóveis, segundo Gentili.

O euro -especialmente a nota de € 500 (que vale cerca de US$ 600)- se tornou a divisa preferida dos narcotraficantes no mundo todo e suas cédulas falsas viraram parte das suas operações. Em março, autoridades de Bogotá, na Colômbia, desmantelaram uma gráfica de dinheiro, apreendendo mais de meio milhão de notas de euro falsas.

Séculos atrás, a confecção de moedas com imagens de monarcas era um crime grave, acarretando até a pena de morte. Hoje, a Comissão Europeia está trabalhando para criar uma pena "máxima mínima" para quem falsifica a moeda continental, porque as punições variam nos 27 países da União Europeia.

A Itália tem penas relativamente elevadas, de 3 a 12 anos de prisão, mas sua aplicação continua sendo um desafio. Os juízes costumam reduzir as penas na hora dos recursos e a reincidência continua elevada. Algumas pessoas presas na operação de 2009 já foram soltas.

As autoridades citam um caso particularmente preocupante, em que um homem da região da Campânia foi detido em 2007 ao ser flagrado pela polícia imprimindo euros falsos. Após passar um mês na cadeia, ele foi colocado em prisão domiciliar à espera do resultado do julgamento, que ainda está em curso. Em 2009, voltou a ser detido por acusações semelhantes e repetiu o mesmo ciclo de detenção anterior, até ser novamente preso neste ano pela acusação de falsificação de divisa.

"Nós frequentemente nos encontramos seguindo as mesmas pessoas", disse Gentili. "Elas furtam, elas fogem, elas progridem, nós seguimos", afirmou. "É como um jogo de gato e rato."

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