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Kirill Gerstein

Pianista funde dois estilos musicais

Por ALLAN KOZINN

Equilibrar o jazz e a música clássica, decidindo em qual focar -ou mesmo se é preciso optar-, é algo importante para o pianista Kirill Gerstein. E ele tem tido respostas diversas em diferentes momentos.

Afinal de contas, foi seu talento como um mago da improvisação, aos 12 anos, que atraiu a atenção do vibrafonista Gary Burton, quando ele se apresentava em um festival na União Soviética.

Quando Gerstein tinha 14 anos, Burton lhe ofereceu uma bolsa para a escola de jazz Berklee, em Boston. Gerstein também estudou o repertório clássico na Universidade de Boston e em Tanglewood, e ao completar seu mestrado na Escola de Música de Manhattan, aos 20 anos, já havia estabelecido uma carreira na música clássica. Em 2001, ganhou a Competição de Piano Arthur Rubinstein, em Tel Aviv.

"Kirill é um músico tão completo e profundo que sem dúvida seria brilhante em qualquer forma musical que escolhesse", escreveu Burton num e-mail. "Embora tivesse só 14 anos quando chegou a Berklee, rapidamente se tornou um dos mais respeitados intérpretes entre os alunos e francamente fiquei bastante surpreso quando ele deixou o jazz para trás e mudou para o clássico. Quando soube que ele ganhou o prêmio Rubinstein, ri comigo mesmo e disse: pois é, esse é o Kirill, detonando no que quer que esteja tocando."

Gerstein recebeu em 2010 o prestigioso Gilmore Artist Award, no valor de US$ 300 mil, e tem feito carreira como músico de recitais, em orquestras de câmara e como solista de concerto. Sua marca registrada são as interpretações inflamadas e dramáticas de obras como a Sonata em Si Menor de Liszt, peça central da sua recente gravação pelo selo Myrios Classics.

Nascido na Rússia, Gerstein, 32, é cidadão dos EUA desde 2003, mas mantém o passaporte russo e vive em Stuttgart, na Alemanha, onde leciona. Sua mulher é de Tel Aviv.

Daniel Gustin, diretor do Festival Internacional de Teclado Irving S. Gilmore, vê a formação jazzística de Gerstein como um elemento essencial do seu estilo. "Sempre senti na interpretação de Kirill uma liberdade com o material musical que atribuo ao seu amor pelo jazz", disse Gustin.

Gerstein observou que nunca conheceu um pianista que seja igualmente eloquente em ambos os estilos, por isso ele preferiu focar na música clássica.

Mas sua rotina de treinos inclui períodos de improvisação jazzística, para manter o frescor da sua interpretação.

"Sempre me interessou essa conexão entre o jazz e o clássico: onde o limite começa a ficar difuso, e como eles são diferentes e semelhantes", afirmou Gerstein. "Minha intuição sempre foi a de que eles são muito parecidos. O jazz foi uma parte importante do meu crescimento musical, mas não sei até que ponto eu teria sido bem-sucedido ou interessante como pianista de jazz."

Encomendar composições a Brad Mehldau, Chick Corea e Timothy Andres é uma maneira de Gerstein manter o contato com suas raízes de jazz.

Curiosamente, Gerstein hesita em tocar improvisações próprias nas "cadenzas" dos concertos de Mozart e em outras obras do século 18.

"Para mim é difícil, porque, se eu começo a improvisar, escorrego para o idioma do jazz", disse ele. "Não tenho experiência de improvisar dentro de um estilo clássico, do jeito que faz alguém como [o pianista norueguês] Robert Levin e acho que adoraria receber algumas aulas."

Ele acrescentou: "Uma coisa que o Gilmore me disse e eis algo agradável de ter em mente, é que posso dedicar um tempo para trabalhar com músicos que me interessam: por exemplo, ir a Boston durante uma semana para conversar com Bob e trabalhar com ele em 'cadenzas' de Mozart. Em geral, ainda me entusiasmo por estudar e aprender."

"Sempre me interessou essa conexão entre o jazz e o clássico"

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