São Paulo, segunda-feira, 02 de agosto de 2010

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Consumo chinês ameaça eficiência energética


Emissões de dióxido de carbono estão crescendo no país

Por KEITH BRADSHER

CANTÃO, China - O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, prometeu recentemente "mão de ferro" para que seu país se torne mais eficiente do ponto de vista energético.
Nos últimos três anos, a China já fechou mais de mil usinas termoelétricas a carvão que usavam uma tecnologia ainda comum nos Estados Unidos. O país também superou o resto do mundo como maior investidor mundial em turbinas eólicas e em outras energias limpas. E determinou novos padrões energéticos rígidos para a iluminação e os carros.
Agora, as cidades receberam ordens para acabar com as fábricas ineficientes.
Mas, embora Pequim imponha a campanha nacional de energia mais rigorosa do mundo, o esforço está sendo sobrepujado pelas demandas de mais de 1 bilhão de consumidores chineses. Se a China não conseguir cumprir suas próprias metas de eficiência energética, as chances de evitar graves danos ambientais decorrentes da elevação de temperaturas "são muito próximas de zero", disse Fatih Birol, economista-chefe da Agência Internacional de Energia (AIE), em Paris.
Aspirando a um padrão de vida mais ocidentalizado, a população chinesa clama por mais e maiores carros, por eletrodomésticos e por confortos como ar condicionado nos shopping centers.
Por isso, a eficiência energética da China está, na verdade, diminuindo. E, como a maior parte da sua energia ainda vem da queima de combustíveis fósseis, as emissões chinesas de dióxido de carbono estão piorando. O último período inverno/primavera teve o maior aumento semestral de emissões já registrado por qualquer país.
Até recentemente, a AIE e a Administração de Informação Energética dos EUA supunham que a China alcançaria rápidas melhorias na sua eficiência energética até 2020.
Mas, agora, a China tem dificuldades até mesmo para reduzir suas emissões aos níveis habituais.
"Realmente temos uma tarefa árdua [para cumprir as atuais metas de eficiência]", afirmou Gao Shixian, integrante da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reformas, em discurso no final de junho.
A meta da China é reduzir neste ano em 20% o consumo de energia por unidade econômica produzida, em relação aos níveis de 2005, e até 2020 reduzir em 40% a 45% as emissões de gases do efeito estufa por unidade econômica produzida, também em relação a 2005.
Mesmo que a China consiga isso, a AIE projeta que as emissões chinesas vão crescer mais do que a soma de todo o resto do mundo até 2020.
A demanda energética na China cresce tão rapidamente que está ficando mais difícil até mesmo alcançar as metas mais amplas de eficiência energética -ainda que o país tenha superado os EUA na eficiência média das suas usinas termoelétricas a carvão.
Enquanto a China impõe padrões de eficiência luminosa para novos prédios e prepara regras semelhantes para os eletrodomésticos, a construção de edifícios segue a todo vapor. E as vendas de geladeiras, lavadoras e outros eletrodomésticos pesados mais do que duplicou nas zonas rurais no ano passado.
Conforme a economia se torna mais dependente da demanda doméstica em vez das exportações, o crescimento se direciona para a produção de aço e cimento -setores famintos por energia.
Os carros chineses rendem até 40% mais por litro de gasolina do que os americanos porque tendem a ser muito menores e a ter motores mais fracos. Mas o mercado automobilístico chinês cresceu 48% em 2009, ultrapassando o dos EUA.
Um dos mais recentes fatores no uso de energia da China surgiu fora do alcance do planejamento de Pequim, na forma da insatisfação trabalhista nas fábricas do país.
Uma geração mais antiga de migrantes operários aceitava dormitórios e fábricas onde mal havia um ventilador para lhes refrescar. Já os jovens chineses, além de salários mais altos, exigem também seus próprios apartamentos conjugados de 9 m2, com ar condicionado em casa e nas fábricas.
O primeiro-ministro Wen admitiu, em nota oficial em maio, que a eficiência energética está regredindo e teve uma piora de 3,2% no primeiro trimestre. A indústria representa para a economia chinesa até o triplo do que para a americana, e usa muita energia.
"A China tem tentando agarrar a fruta que está baixa no pé -encontrar essas oportunidades em que a maior eficiência pode poupar dinheiro e reduzir as emissões de dióxido de carbono", disse Ken Caldeira, especialista em mudança climática no Instituto Carnegie para a Ciência, em Stanford, na Califórnia.
"Está começando a parecer que pode não ser tão fácil encontrar e agarrar essa fruta."


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