São Paulo, segunda-feira, 04 de abril de 2011

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Hessel volta à cena com best-seller

Por ELAINE SCIOLINO
PARIS - Como herói da resistência francesa, Stéphane Hessel esteve exilado em Londres com Charles de Gaulle, ficou preso em campos de concentração, foi torturado pelos nazistas e foi salvo de ser enforcado por ter trocado de identidade com um prisioneiro que morrera de tifo.
Hoje, aos 93 anos, ele é autor de um best-seller na França. O livreto fino e impressionista intitulado "Indignez-Vous!" ("Indignai-vos!"), cujas folhas são presas apenas com dois grampos de papel, exorta os jovens na resistência pacífica à "ditadura internacional dos mercados financeiros" e na defesa "dos valores da democracia moderna".
Hessel protesta em especial contra o tratamento dado pela França aos imigrantes ilegais, a influência dos ricos sobre a mídia, os cortes de gastos com o sistema de bem-estar social, as reformas educacionais na França e, sobretudo, o tratamento dado por Israel aos palestinos.
"É quando alguma coisa faz com que você se sinta ultrajado, como o nazismo fez comigo, que você se torna um militante", ele escreve.
Desde que foi publicado, em outubro, "Indignez-Vous!" já vendeu quase 1,5 milhão de cópias na França e foi traduzido para espanhol, italiano, português e grego. São planejadas edições do livreto em esloveno, coreano, japonês, sueco e outras línguas. Nos EUA, a revista "The Nation" publicou a versão inglesa integral em fevereiro.
Com cerca de 4.000 palavras, "Indignez-Vous!" (o título britânico é "Time for Outrage") não chega a ser um livro. Sua edição francesa tem 29 páginas, incluindo notas de rodapé, uma ilustração e apenas 14 páginas de texto.
Os franceses saudaram Hessel como um dos últimos heróis ainda vivos da era mais sombria do século 20. "Se tivesse sido escrito por um jovem, provavelmente não teria tido o mesmo impacto", comentou Hessel.
O texto foi inspirado por um discurso que ele fez em 2008 para lembrar a resistência ao nazismo. Sylvia Crossman, uma editora, propôs a criação de um panfleto baseado no pensamento de Hessel e, após três entrevistas, converteu as palavras dele em um texto. Hessel o editou um pouco. "Minha contribuição foi oral", disse. Ele não aceitou royalties pelo trabalho.
O livreto foi criticado por não oferecer receitas de ações a serem empreendidas e por carecer de valor literário. Mais grave é o fato de ter sido tachado de antissemita, devido ao ataque que lança contra Israel.
Hessel, cujo pai era judeu, responde: "Sinto que estou completamente em solidariedade com os judeus".


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