São Paulo, segunda-feira, 10 de outubro de 2011

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Dinheiro & Negócios

Desaceleração da China preocupa economia global

Por KEITH BRADSHER

HONG KONG - Enquanto as economias americana e europeia se debatem e os mercados emergentes como Brasil e Índia mostram novas fraquezas, a China talvez pareça estar em melhor forma do que a maioria dos países. Mas "melhor" é relativo.
Muitos economistas ainda estimam que o índice de crescimento chinês supere 9% este ano. A China continua apresentando superávits comerciais muito grandes, e o número de construções disparou.
No entanto, o enorme setor manufatureiro do país começa a desacelerar e as encomendas estão enfraquecendo, especialmente de exportações. A bolha imobiliária começa a desinflar, enquanto a inflação continua insistentemente alta para os consumidores.
Como o crescimento poderoso da China tem sido um dos poucos motores da economia global desde a crise financeira de 2008, sinais de desaceleração poderiam aumentar as preocupações sobre a expectativa global.
Se a China permitir que o yuan valorize mais rapidamente e se seu superávit comercial diminuir, poderá beneficiar outras economias. Mas uma desaceleração acentuada na China poderia simplesmente aumentar os problemas financeiros mundiais. Os exportadores chineses estão especialmente preocupados.
Hoje mais pessoas que procuram emprego parecem dispostas a aceitar o tédio das linhas de montagem. Em curto prazo, isso também poderia ajudar os exportadores. Mas poderia ser um sinal precoce de futuros problemas de desemprego.
Investidores e economistas estão pessimistas; a Bolsa de Xangai caiu 14,7% desde 15 de julho.
Os economistas mais preocupados são os que acompanham a política monetária da China. O banco central criou um enorme esforço de estímulos em reação à desaceleração econômica global, expandindo rapidamente sua emissão de dinheiro e depois encorajando os bancos a emprestar e reemprestar. O estoque de dinheiro aumentou 53% em dois anos.
Com a inflação hoje em mais que o dobro da taxa de juros regulamentar paga pelos bancos por depósitos, milhões de chineses têm apostado suas poupanças em imóveis. Esse frenesi fez os preços das propriedades disparar.
Mas, para combater a inflação, as autoridades chinesas estabeleceram cotas estritas de novos empréstimos. E ordenaram que os bancos mantenham mais de um quinto de seus ativos no banco central, o que limita sua capacidade de crédito -e a capacidade de as empresas pedirem empréstimos.
"As menores empresas acham difícil obter qualquer tipo de empréstimo dos bancos", disse Orchid Chen, diretora de vendas do Fujian Yuandong Electric Motor Group, na província de Fujian.
Diana Choyleva, uma economista da Lombard Street Research baseada em Hong Kong, previu que a economia chinesa cresceria a um índice anual de apenas 5% no segundo semestre deste ano e no primeiro do próximo. "Enquanto as autoridades estão conseguindo conter o crescimento da demanda, o resto do mundo não parece saudável, por isso haverá um choque de exportação", disse.
A China foi muito bem-sucedida na criação de empregos e transferência do desemprego para outros países, através da intervenção nos mercados monetários. Isto manteve o yuan fraco e tornou as exportações chinesas competitivas, mas manteve as importações caras para os consumidores locais.
A demanda interna chinesa começa a decrescer ligeiramente. O enorme mercado de automóveis viu as vendas de veículos aumentarem 6% em agosto em relação ao ano passado. Mas isso vem depois de uma década de crescimento de dois dígitos quase contínuo.
Mais preocupante, o crescimento em agosto ocorreu principalmente entre fabricantes japoneses na China que estavam finalmente recebendo encomendas, ao se recuperar do tsunami de março. Os descontos de preços cresceram.
E muitas fábricas de carros chineses tiveram vendas acentuadamente menores em agosto.
Depois há os preços dos imóveis. Uma pesquisa do governo mostrou que eles caíram em agosto, comparado com julho, em 16 cidades. E os preços permaneceram estáveis em 30 cidades, embora tenham aumentado em outras 24.
A pergunta mais difícil de responder na China é se o crescimento econômico mais lento e a inflação constante poderão provocar mais tensões sociais, que por sua vez poderiam prejudicar a economia com a redução do investimento e gastos mais cautelosos.
Os governos locais têm aumentado sua arrecadação apropriando-se de terras de agricultores, com uma indenização mínima, e vendendo-as para empreiteiras. A mídia relatou vários protestos nos últimos meses nas áreas rurais. Mas não há dados nacionais confiáveis sobre os protestos.

Contribuiu Hilda Wang com reportagem


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