São Paulo, segunda-feira, 10 de outubro de 2011

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Roqueira quer deixar ópera mais barulhenta

Por JULIE BLOOM

Karen O, vocalista da banda nova-iorquina de "indie rock" Yeah Yeah Yeahs, e seus colaboradores têm como objetivo criar um novo tipo de espetáculo misturando vários gêneros musicais.
Sua "Stop the Virgens" é uma espécie de ópera, algo como um mito psicodélico sobre a evolução de um grupo de virgens. O espetáculo, no St. Ann's Warehouse, em Nova York, ficará em cartaz de 12 a 22 de outubro, após quase sete anos de preparação.
A direção é do dramaturgo Adam Rapp. Para ele e para Karen O, essa mistura de teatro, música, dança, vídeo e tecnologia é uma oportunidade de levar a experiência multidisciplinar a outro nível.
"Depois de passar dez anos na estrada com a banda e de tocar em todo tipo de local possível no mundo, realmente adorei a ideia de a gente poder se plantar em algum lugar e meio que aumentar o volume da experiência ao vivo", disse Karen O sobre a sua motivação para esse trabalho. "É uma amplificação desse tipo de envolvimento emocional", acrescentou.
O espetáculo está sendo patrocinado pelo Creators Project, uma iniciativa das empresas Vice Media e Intel que pretende se tornar um novo modelo de mecenato artístico.
A Intel oferece recursos financeiros e tecnológicos; a Vice atua como diretora de criação do projeto.
"A gente vai assistir vários shows de rock, e já vimos todos os filmes", disse Eddy Moretti, produtor-executivo e diretor-executivo de criação da Vice e do Creators Project.
"Não há nada que nos entusiasme mais."
"Stop the Virgens" abrirá um festival do Creators Project em Nova York, que terá também participações de bandas como Florence and the Machine e ASAP Rocky, além de obras multimídia de David Bowie.
Karen O (seu sobrenome é Orzolek), 32, guardou durante anos o conceito vago de "Stop the Virgens". Há mais ou menos um ano, ela começou a desenvolver uma narrativa com K.K. Barrett, diretor de arte e ex-integrante da banda punk The Screamers. Barrett assina com Karen O o espetáculo.
"Estou realmente fora da minha zona de conforto", disse Karen O. "Mas essa é a parte mais interessante da coisa."
A ópera é toda cantada, e a letra é abstrata. Eis o enredo: as personagens virgens são jogadas, informes, num mundo em que Karen O é uma gentil figura materna. Então, após uma tempestade, ela se transforma em uma sombria ditadora e expulsa as virgens.
Estas descobrem sua sexualidade e participam de uma festa dionisíaca, mas acordam de ressaca e reconhecem seu erro. Mais tarde, elas ingerem chicletes coloridos e são levadas a um final apavorante e inevitável.
"Stop the Virgens" parece realmente mostrar a jornada de Karen O até a maturidade como artista e como mulher. Um recado ao elenco diz: "Isso encarna a colisão da escuridão com a inocência. Ralamos nossos joelhos no caminho até a sabedoria".
A música, a ser lançada em um álbum, foi composta em três semanas, segundo ela.
A inspiração veio em parte de diferentes gêneros cinematográficos: os westerns italianos, o cinema negro da década de 1970, e o "noir" de David Lynch.
Para Karen O, autora de canções usadas em "Onde Vivem os Monstros (2009), de Spike Jonze, o teatro apresentava novos desafios. Ela precisava lidar com a direção de palco, a coreografia, as várias trocas de figurino -e com uma gigantesca garra de lagosta.
"Ela sabe lançar um feitiço, é algo tão teatral", disse Rapp.
Como parte da pesquisa, ela e Rapp, que já trabalhou com teatro experimental, foram assistir "Sleep No More", uma releitura maluca de "Macbeth" pela companhia teatral britânica Punchdrunk.
"Stop the Virgens" é um experimento muito feminino. A peça inclui um coro de cerca de 30 acólitas virgens, sete virgens e duas sentinelas, todas mulheres. "Na estrada, com o rock, os caras são uns 90%", disse Karen O.
Agora que "Stop the Virgens" está prestes a estrear, Karen O já se pergunta que rumo tomará após o espetáculo.
"Eu sinto que a cada cinco a sete anos preciso realmente me colocar nessa posição de desconforto e prospecção, apenas para sobreviver", disse.
"Se não, sinto que estou pegando no sono, que eu vou enlouquecer se não fizer isso."


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