São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

NOVA YORK

Hotel de luxo imita cortiço em Nova York

Por DAN BARRY

No segundo andar de um velho cortiço na rua Bowery, nove homens pagam menos de US$ 10 por noite para dormir em cubículos cobertos com tela de arame. Metade dos compartimentos do banheiro que eles usam não têm portas, e os corredores são ladeados por fileiras fantasmagóricas de cubículos vazios cujos últimos ocupantes mudaram de endereço ou morreram.
Logo acima, no terceiro e quarto andares, jovens descolados pagam entre US$ 62 e US$ 129 por noite por uma versão refinada da dura experiência descrita acima.
Seus cubículos têm colchões customizados e lençóis sofisticados. Os banheiros que eles compartilham têm pias de mármore, pisos aquecidos e toalhas Ralph Lauren.
Os mundos díspares dentro do número 220 da rua Bowery raramente se cruzam, embora a estética de cortiço do hotel vise criar um clima de "história viva" que é "simultaneamente de um museu e de um hotel", dizem seus empreendedores, Sanford Kunkel, de Indiana, e Alessandro Zampedri, da Itália.
O objetivo da dupla é criar um hotel parecido com um albergue para uma clientela sexy e vibrante, preservando ao mesmo tempo parte do passado da Bowery. Kunkel chega ao ponto de descrever os homens que vivem ali em condições precárias como "um trunfo para o empreendimento".
Um exemplo no hotel é o quarto intitulado Beliche do Pimentas, que homenageia "Charlie Pimentas", "um dos moradores mais antigos e pitorescos do edifício", segundo o material publicitário do hotel.
Há de fato um inquilino silencioso e recluso de 84 anos, que se chama Charlie e consome muita pimenta. Ele não foi informado de que há um quarto num andar de cima com seu apelido nem que seu estilo de vida humilde está sendo usado como um chamariz publicitário.
No entanto, Charlie já manifestou seu desagrado com a homenagem. Ao ver dois peões que trabalhavam na reforma do tal quarto, este homem de poucas palavras lhes disse simplesmente, "saiam daqui".
Portanto, este hotel reflete o eterno embate entre o passado e o presente de Nova York.
O pessoal do segundo andar representa a época em que a Bowery era a última saída para gente sem recursos. Os que ocupam os andares superiores -muitos deles europeus e alguns com carreira de modelo- representam o status crescente da Bowery como um endereço de prestígio para a classe alta.
O edifício sediava o Prince Hotel, inaugurado na década de 1920 como pensão ocupada pelos príncipes arruinados da cidade. Hoje o local é chamado de Bowery House.
No terceiro andar, os cubículos recém-pintados de marrom exibem treliças de madeira, em vez de tela de arame, e as placas numeradas acima das portas são réplicas feitas por um artista com base nas originais de porcelana.
Kunkel salientou a atenção dada à decoração do cortiço: os sofás Chesterfield originais na sala de estar, os produtos Red Flower nos banheiros e os pôsteres de filmes relacionados à área de Bowery em quase todos os recintos incluindo um de "On the Bowery" -documentário de 1957 que enfocava a cultura sinistra de bêbados crônicos que caracterizou a Bowery por gerações.
Tudo isso agora é voltado a uma clientela descrita por um assistente de relações públicas como jovem, antenada "e atraente", e por Kunkel como pessoas que optam por se hospedar em um cubículo barato, mas podem "ir a um restaurante fino e gastar US$ 300".
Kunkel disse que pode "sequestrar" os moradores do cortiço e até pagar para que alguns se retirem para sempre, mas que não tem planos de expulsar ninguém. "Não queremos desestabilizar o barco nem atrair um karma ruim."


Texto Anterior: Físicos acham partículas que viajam mais rápido que a luz

Próximo Texto: Casamento gay ofende imigrantes nos EUA

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.