São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2011

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Casamento gay ofende imigrantes nos EUA

Por DAN BILEFSKY

O Molly Blooms, um bar irlandês no Queens, recentemente ofereceu gratuitamente uma recepção de casamento gay, incluindo um passeio de carruagem para o casal. O dono do bar achou que a ideia seria boa para seu negócio e para a área de Sunnyside, que é repleta de trabalhadores e imigrantes.
Alguns vizinhos, porém, prometeram boicotar o bar. Larry Yang, 45, o dono coreano-americano de uma loja de ferragens próxima, disse estar chocado com tamanha divulgação pública de um casamento entre pessoas do mesmo sexo, e que seu sentimento era partilhado por muitos coreano-americanos cristãos do Queens.
"Se a tal carruagem passasse pela minha loja, eu daria um jeito para que meus filhos não a vissem", afirmou.
A legalização da união homossexual no Estado de Nova York desnudou o conflito entre o conservadorismo social de muitos imigrantes e os valores dos profissionais mais liberais, com frequência mais ricos, que mudaram para Sunnyside após o aumento do custo de vida em Manhattan.
Muitos imigrantes em Sunnyside são muçulmanos da Turquia, onde os militares, guardiões do Estado secular, consideram a homossexualidade uma doença.
Aliihsan Simcek, 63, de Ancara, disse que muitos turcos se opõem ao casamento gay porque para o islã a homossexualidade é pecado. "Eu não sou contra os gays, só não concordo com o casamento gay. Eu não quero ver dois homens se beijando ou adotando uma criança. Jamais irei a esse tal Molly Blooms", disse ele.
Dean Sirigos, 50, um redator greco-americano do jornal grego The National Herald, no Queens, disse que o debate criou um conflito cultural entre os 450 mil greco-americanos que vivem na região metropolitana de Nova York.
Os mais jovens estão lutando para conciliar os valores seculares absorvidos nos EUA com os ensinamentos da igreja ortodoxa grega, que se opõe ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Em uma pesquisa recente no website do National Herald, cerca de 1.000 pessoas responderam à pergunta "Você aprova o casamento gay?", sendo que 86% disseram que não.
"O casamento é visto como um sacramento da igreja, não como um direito civil", disse Sirigos.
O Flushing, no Queens, tem uma das maiores comunidades asiáticas dos EUA.
Dian Song Yu, diretorde uma organização do bairro, disse que muitos sino-americanos não apoiam o casamento gay.
"Se alguém abrisse um clube gay aqui em Chinatown, a maioria das pessoas não iria", comentou Yu.
O reverendo Joseph D. Jerome, pároco haitiano-americano da igreja episcopal All Saints em Sunnyside, disse apoiar o direito dos gays de se casarem, mas que não estava preparado para oficiar casamentos desse tipo."Eu teria dificuldade na hora de pronunciar 'marido e marido'".
O vereador gay de Sunnyside Jimmy Van Bramer disse ser bem aceito por muitos imigrantes e que compreendia que alguns deles estranhassem casamentos gays. "Hoje em dia se vê dois rapazes gays andando de mãos dadas pelo Queens Boulevard e ninguém liga".
O dono do Molly Blooms, Ciaran Staunton, 48 - heterossexual, casado, pai e católico - disse que queria participar do que chamou de "a última grande batalha pelos direitos civis".
"Sempre vai haver gente do contra que não gosta disso."
O pub estava lotado quando as presenteadas com a recepção, Janice Velten, 59, carteira no Queens, e sua namorada há 24 anos, Patrice Pfirman, 54, funcionária civil do Departamento de Polícia, foram anunciadas.
Yang chamou a recepção de armação cínica. "É uma jogada visando lucro porque há muitos gays morando aqui", disse ele. "Eu não tenho o menor problema com meus clientes gays. Mas nós somos coreanos conservadores e nenhum de nós acha que esse casamento gay é uma coisa positiva. Onde é que o mundo vai parar?"


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