São Paulo, segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

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Desafiando a censura, cineastas filmam turbulência no Irã

Por MICHAEL SLACKMAN

CAIRO - O governo do Irã não consegue silenciar os cineastas de seu país. Ele não para de tentar. Filmes são censurados. Diretores são proibidos de deixar o país e proibidos de voltar a ele, forçados a cancelar projetos e ameaçados com punições se seus filmes forem demasiado investigativos ou críticos da vida na República Islâmica.
Mas os filmes continuam a sair, e os cineastas não param de produzir. O trabalho mais recente de Bahman Ghobadi, "No One Knows About Persian Cats", foi proibido no Irã mas está circulando gratuitamente.
O filme faz um retrato arrasador da vida através do prisma de um cenário musical underground vibrante. Tem canções com letras como "esta é Teerã, uma cidade onde tudo o que você vê o seduz, seduz sua alma, até você perceber que não é humano, é lixo apenas".
O filme recebeu o Prêmio Especial do Júri no festival de Cannes em 2009, convertendo o tapete vermelho de um festival internacional de cinema em plataforma para chamar a atenção à crise política no Irã. Eventos semelhantes aconteceram em Montreal, Berlim, Nuremberg, Mumbai e Londres, onde cineastas iranianos vêm aproveitando sua celebridade para manter o público atento à turbulência que grassa no Irã desde a eleição presidencial de junho.
"Pessoas de meu país são mortas, presas, torturadas e violentadas, apenas por seus votos", disse Mohsen Makhmalbaf, um dos diretores mais renomados do Irã, ao aceitar o prêmio Liberdade de Criar, em Londres, no mês passado. "Cada prêmio que recebo representa para mim uma oportunidade de fazer suas vozes ecoar diante do mundo, pedindo democracia no Irã e paz no mundo."
O governo iraniano tem estado ocupado combatendo em muitas frentes, lutando para impor a ordem nas ruas, restaurar a unidade nas fileiras da elite política e religiosa e conservar algum grau de legitimidade dentro e fora do país. Cada vez mais, porém, o esforço tem sido em vão, na medida em que o governo vem recorrendo à força, incluindo a repressão letal, para tentar silenciar os protestos.
Mas o governo também vem combatendo a oposição de formas menos públicas, trabalhando para purgar o currículo escolar de ideias que vê como subversivas, como o estudo das humanidades, e para empoderar uma nova força ciberpolicial para patrulhar a internet. E vem dando ênfase também ao esforço para domar a indústria cinematográfica.
O aiatolá Khamenei e o presidente Mahmoud Ahmadinejad têm criticado a indústria do cinema, dentro do que chamam de "guerra branda" contra as influências ocidentais no Irã. Javad Shamaghdari, o deputado responsável pelo cinema no Ministério da Cultura e da Orientação, anunciou no mês passado que o presidente chefiará pessoalmente um novo órgão estatal encarregado de fiscalizar o cinema iraniano.
"O inimigo está nos emboscando culturalmente e aumentando a intensidade de seus ataques", disse o deputado, segundo a imprensa estatal iraniana. Em dezembro, o líder supremo promoveu uma reunião com diretores de cinema, a quem disse que o cinema não é uma arte, mas uma arma de propaganda política.
Mas o governo não tem conseguido silenciar os cineastas. Segundo Jaleh Pirnazar, professor de estudos do Oriente Médio nos EUA, na reunião com o líder supremo o premiado diretor Majid Majidi se queixou de que "não há respeito pelos direitos humanos, e o governo é tão ideologicamente motivado que estamos com as mãos amarradas".


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