São Paulo, segunda-feira, 12 de abril de 2010

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Disparidade causa tensão na Tailândia

Por THOMAS FULLER

BANCOC - A Tailândia é um país de 145 mil sedãs Mercedes Benz e cerca de 75 mil vilarejos, muitos deles miseráveis.
Durante um mês de protestos contra o governo, que culminaram, na semana passada, com a invasão do Parlamento, os carros de luxo tiveram de dividir as ruas de Bancoc com megafones que berravam o descontentamento rural.
De pé na carroceria de uma picape, protegida por um chapéu, Thanida Paveen, 43, mãe de dois filhos, explicava a epifania que a levou à manifestação.
"Eu costumava pensar que nascemos pobres e ponto", disse Thanida, que cresceu nas Províncias, mas hoje vive em Bancoc, onde aluga quartos para operários das periferias industriais. "Abri minha cabeça para um novo jeito de pensar: precisamos mudar do regime da aristocracia para uma democracia real."
A Tailândia de hoje não é bem a França de 1789; não há um histórico de grandes tensões entre ricos e pobres, e a maior parte do país é pacífica, apesar dos ruidosos protestos.
Mas os tailandeses menos privilegiados nunca estiveram tão pouco inclinados a aceitar em silêncio sua situação, como fizeram as gerações anteriores, e estão manifestando sua ira contra a disparidade de riquezas, a corrupção policial e o que consideram ser uma antiga arrogância em Bancoc contra as pessoas que falam os dialetos provinciais.
A deferência, a gentileza e a benevolência que durante séculos ajudaram a ancorar a hierarquia social na Tailândia estão se esgarçando, dizem analistas, conforme os tailandeses mais pobres se livram de antigos tabus que desestimulavam o confronto.
A Tailândia tem uma das distribuições de renda mais desiguais da Ásia, segundo o Banco Mundial. "Esta é uma recém-descoberta consciência de uma parte previamente negligenciada da sociedade tailandesa", disse Thitinan Pongsudhirak, renomado cientista político e professor visitante da Universidade Stanford (EUA).
"No passado eles ficavam chateados, mas não eram coesos como uma força e coerentes em sua agenda." A tecnologia tem tido um papel crucial em reunir os manifestantes. Os líderes do movimento de protesto têm usado rádios comunitárias, mensagens por celular e a internet para forjar uma identidade para os tailandeses de baixa renda e para conectar as pessoas em aldeias e cidades.
Os manifestantes, conhecidos por usarem camisas vermelhas, têm convergido para os prédios públicos, bancos e quartéis guiados por mensagens de texto. A Tailândia parece estar perdendo uma pequena parte do que habitualmente atrai milhões de turistas ao país: uma cultura de imperturbável polidez.
Pakawan Malayavech, 55, nativa de uma Província do nordeste, refletia sobre essas mudanças ao caminhar recentemente em meio a uma multidão de manifestantes com camisas vermelhas.
Quando jovem, ela trocou a Tailândia pelos EUA, onde foi motorista de caminhão de sorvetes em Fairfax, Virgínia, entre outros empregos esporádicos. Voltou em 1999 para se aposentar e agora vê o país como se fosse em uma sequência de fotos no tempo.
"As pessoas costumavam perdoar e esquecer facilmente", disse ela. "Agora a nova geração é mais como os americanos. Ela retruca."


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