São Paulo, segunda-feira, 12 de setembro de 2011

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Dinheiro & Negócios

O mercado, as bolhas e o ouro

Por STEVEN M. DAVIDOFF

O ouro está no centro de um novo frenesi do mercado financeiro.
Seu preço atingiu o pico recorde de US$ 1.917,90 em certo momento em agosto, não ajustado pela inflação, depois despencou cerca de US$ 120 por onça. A negociação volátil está provocando alegações de que o ouro vive uma bolha, e que ela vai estourar feio.
Assim como os booms anteriores do preço das moradias e das ações da internet, o surto de quatro anos nos preços do ouro levanta as mesmas perguntas fundamentais para os reguladores do mercado. Como devem reagir? E devem reagir? Como podem saber se há uma bolha?
É claro que a especulação vem provocando a alta do ouro. As pessoas estão comprando ouro como uma proteção contra a inflação ou calamidade econômica, ou somente porque acham que seu preço vai subir. Como evidência dessa especulação, o Conselho Mundial do Ouro relata que a demanda por barras de ouro mais que duplicou desde 2009, para cerca de 850 toneladas por ano. É principalmente ouro que é comprado e fica parado enquanto as pessoas esperam o preço subir. Na verdade, a demanda por ouro na indústria e para joalheria caiu 18% frente a 2004.
Essa especulação é auxiliada pela revolução financeira. Antes, o ouro podia ser comprado por investidores no varejo somente através de corretores e lojas de rua. Hoje qualquer pessoa pode entrar na internet, clicar e comprar ouro no mercado via fundos negociados em Bolsas, que hoje detêm cerca de 2.250 toneladas de ouro -ou a produção de um ano.
A especulação por si só não significa necessariamente que o ouro esteja em uma bolha. O metal é considerado historicamente uma proteção contra a inflação e os tempos econômicos tumultuados. Mas, assim como o papel-moeda, o ouro só vale o que as pessoas acreditam que ele vale, e por causa disso às vezes é chamado de relíquia bárbara. Você não pode comer couro. Seus usos industriais são limitados. Se outra pessoa não atribuir o mesmo valor que você ao ouro, você está sem sorte.
A relativa inutilidade do ouro propiciou os rumores sobre uma bolha. O problema para os reguladores é se essa especulação é uma proteção prudente, ou as pessoas estão acumulando irracionalmente em um ativo bolha.
Assim como a bolha da internet que estourou em 2000, só saberemos se realmente houve uma bolha se e quando o ouro cair. Em seu livro Irrational Exuberance [Exuberância irracional], Robert J. Shiller, da Universidade Yale, nota que as bolhas são criadas quando as pessoas compram o artigo da moda. Aceitam que é um ativo que muda o jogo -como a habitação ou a internet -, que não pode falhar.
Segundo o professor Shiller, um motor crucial de uma bolha na era moderna são a internet e a mídia. Há muitos comerciais para a compra de ouro neste momento. Comentaristas da TV falam que o ouro atingirá US$ 2.400 a onça, o que seria um verdadeiro recorde (o pico anterior de US$ 850 em 1980 seria cerca de US$ 2.300 hoje, com o valor ajustado pela inflação).
Mas os reguladores agiram de modo tão hesitante quanto no caso das bolhas da internet e da habitação. Não apenas é difícil localizar uma bolha, como as medidas para combatê-la, como obrigar as Bolsas a aumentar as exigências de margem, são difíceis e polêmicas de se implementar.
Mas se os reguladores quiserem evitar a próxima bolha precisam agir agressivamente. É claro que não devem agir em qualquer circunstância, mas quando vemos volatilidade e especulação como no caso do ouro, agir em cooperação com reguladores internacionais seria prudente, para limitar os efeitos de uma quebra.
Mesmo que a Comissão de Negociação de Futuros e Commodities, o regulador do mercado de ouro nos EUA, hesite em tomar essas medidas, ela poderia, como uma incursão inicial, ir à mídia e tentar "minimizar" a especulação.


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