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Fósseis esclarecem mistério cambriano
Por JOHN NOBLE WILFORD
Desde sua descoberta em 1909, as formações sedimentares de Burgess Shale, nas montanhas Rochosas canadenses, deram aos
cientistas uma cornucópia de evidências da "explosão" de vida complexa multicelular a partir de cerca de 550 milhões de anos
atrás.
Os fósseis foram inicialmente vistos como pouco mais que curiosidades de uma época em que a vida, com exceção de bactérias e
algas, se limitava ao mar -e o que hoje é o Canadá ficava ao sul do Equador. No último meio século, porém, paleontologistas
reconheceram que o Burgess Shale exemplifica a irradiação de diversas formas de vida, diferentes de qualquer coisa de tempos
anteriores.
Ali estava a evolução em ação: organismos reagindo ao longo do tempo às mudanças ambientais através da experimentação natural
em novas formas de corpos e diferentes nichos ecológicos.
Mas então o registro fóssil obscurece: as inovações da vida no Período Cambriano parecem ter poucos descendentes claros.
Muitos cientistas pensavam que a provável explicação para esse desaparecimento fosse que uma grande extinção havia eliminado
a maior parte da vida cambriana.
Nem todo mundo estava convencido, porém, e hoje um tesouro de fósseis de 480 milhões de anos no Marrocos parece ser um golpe
na ideia de uma grande extinção.
A equipe relata na revista "Nature" que o grande número de espécies marroquinas "excepcionalmente preservadas" exibe ligações
aparentemente fortes com espécies cambrianas encontradas em leitos fósseis na China, Groenlândia e, mais notadamente, no
Burgess Shale. Os cientistas acham que isso soluciona o mistério. Os fósseis marroquinos, segundo eles, estabelecem que as
espécies do tipo do Burgess Shale "continuaram tendo um papel importante na diversidade e na estrutura ecológica das
comunidades marinhas mais profundas muito depois do cambriano médio".
Os fósseis do Marrocos incluem esponjas, vermes, trilobitas e moluscos como mariscos, caramujos e parentes dos náutilos
vivos. Outro era semelhante ao atual caranguejo-ferradura, uma regressão biológica conhecida dos frequentadores do litoral.
Hoje, dizem os cientistas, sua antiguidade parece ser ainda maior -cerca de 30 milhões de anos antes do que se pensava,
possivelmente no final do Período Cambriano.
O principal cientista da equipe da descoberta foi Peter Van Roy, um paleontólogo belga e pós-doutorando na Universidade Yale.
Cientistas do Reino Unido, França, Irlanda, Marrocos e EUA participaram da pesquisa. Um coletor de fósseis local, Mohammed Ou
Said Ben Moulal, dirigiu Van Roy até as rochas que ele havia localizado.
Logo ficou claro, segundo Van Roy, que a equipe tinha "realmente descoberto todo o leque desses animais de Burgess, a maioria
dos quais nunca havia sido encontrada depois do Cambriano Médio".
Outro membro da equipe, Derek E. G. Briggs, diretor do Museu Peabody de História Natural em Yale, disse que os cientistas
suspeitaram de que "não estávamos descobrindo os depósitos certos, e vendo apenas um pequeno pedaço da imagem do que
acontecia na vida na época".
Briggs esperava que outros cientistas ficassem menos surpresos com a descoberta. O registro fóssil de um longo período depois
do Cambriano Médio pode ser esparso, mas não desapareceu. Os fósseis do Marrocos não apenas revelam a continuação de muitas
formas de vida cambrianas, ele disse, como mostram "o alto potencial de que haja outros lugares para descobrir organismos do
tipo cambriano que persistiram no tempo".
Os sedimentos do Marrocos, escreveu a equipe, oferecem ligações promissoras entre a explosão cambriana da vida multicelular,
exemplificada no Burgess Shale, e as formas primitivas do que é conhecido como o Grande Evento de Biodiversificação
Ordoviciano, "um dos episódios mais dramáticos da história da vida marinha".
Ele levou ao surgimento de peixes cerca de 400 milhões de anos atrás e à migração de vertebrados de quatro membros da água
para a terra há 360 milhões de anos. Depois da extinção em massa no final do Período Permiano, há cerca de 250 milhões de
anos, os dinossauros ganharam destaque em um mundo de répteis, e depois de sua extinção há 65 milhões de anos os mamíferos
ganharam espaço.
É quase milagroso que qualquer desses antigos vestígios ordovicianos tenha permanecido. Os leitos fósseis do Marrocos,
comentou Briggs, já foram o fundo enlameado de um oceano. Tempestades agitaram o leito marinho, enterrando criaturas a salvo
de predadores e em recessos com pouco ou nenhum oxigênio para promover a decomposição. A química dos sedimentos transformou o
ferro e o sulfato em pirita, que revestiu e preservou as formas dos animais.
"A excelente preservação da anatomia mole", disse Van Roy, "permite reconstruções mais completas e precisas de suas
afinidades genéticas e sua ecologia do que havia sido possível até hoje."
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