São Paulo, segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Europeus reclamam do poder excessivo do Google

Muitas das queixas partem da Itália e da Alemanha

Por ERIC PFANNER

O Google tem um problema na China. Mas talvez tenha dores de cabeça maiores na Europa. Em questões variadas como privacidade, proteção de direitos autorais e domínio nos serviços de buscas, a empresa está em confronto com parlamentares, órgãos reguladores e defensores do consumidor na Europa Ocidental.
O que está em jogo é potencialmente mais importante para o Google do que qualquer coisa que acontecer na China, porque suas operações na Europa são muito maiores e mais lucrativas. Só no Reino Unido, o Google tem quase dez vezes o faturamento que registra na China. Na maior parte do continente, seu mecanismo de busca tem participação de mercado superior à que tem nos Estados Unidos.
O caráter transfronteiriço do Google e suas ousadas ambições causam alarme entre alguns políticos europeus.
O governo italiano propôs uma lei responsabilizando os serviços de vídeo on-line, como o YouTube, por crimes como invasão de privacidade e violação de direitos autorais que ocorram em conteúdo gerado por usuários. Enquanto isso, o Google se defende de acusações judiciais de violação de direitos feitas pela Mediaset, empresa que controla a maior emissora privada de TV do país e pertence à família do primeiro-ministro Silvio Berlusconi.
"É uma batalha total contra o Google na Itália", disse Paolo Brini, da entidade ScambioEtico, que luta pelas liberdades civis na internet.
Na Alemanha, a ministra da Justiça, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, queixou-se recentemente da "megalomania" do Google, que estaria destruindo as proteções à privacidade.
"No todo, vejo um monopólio gigante se desenvolvendo, em grande parte despercebido, semelhante ao da Microsoft", afirmou ela à revista "Der Spiegel". Um porta-voz depois esclareceu que ela não pretendia se manifestar sobre a questão antitruste, o que está fora das suas atribuições.
O Google diz que os europeus comuns não têm medos similares e que as queixas vêm de competidores como a Microsoft ou empresas de mídia cujos modelos tradicionais de negócios estão ameaçados pela mudança tecnológica.
"Adoramos estar na Europa e temos muitos usuários em muitos países que desfrutam dos nossos produtos", disse nota da empresa, que recentemente ameaçou abandonar a China por causa de um ataque contra seus sistemas. "Nossa popularidade implica em que algumas pessoas irão se queixar. O importante para nós é fazer a coisa certa, e isso significa não prender nossos usuários aos nossos produtos e trabalhar bem com os nossos parceiros."
Os desafios mais imediatos ao Google podem estar na Itália. Espera-se para este mês em Milão a conclusão de um julgamento no qual quatro executivos do Google foram acusados de difamação e violação de privacidade, por causa de vídeos postados num site do Google mostrando intimidações a um menino autista.
A empresa diz que, dependendo do veredicto, se verá obrigada a editar o conteúdo do YouTube antes da sua divulgação e que isso seria incompatível com o espírito aberto da internet e com as diretrizes da União Europeia.
Promotores dizem que o Google demorou demais para retirar o vídeo.
Em outra frente, autoridades italianas invadiram em meados de 2009 os escritórios da empresa em Milão, abrindo uma investigação sobre o Google News, que exibe trechos de notícias publicadas on-line. Editoras italianas argumentam que o Google News viola seus direitos autorais, mas que elas não podem retirar os textos do serviço sem despencar nos rankings de busca do Google, o que lhes custaria faturamento publicitário. O Google diz não haver tal relação entre o Google News e o mecanismo de busca.
Editoras alemãs de jornais e revistas têm se queixado ao governo, dizendo que todos os seus sites juntos faturam apenas cerca de € 100 milhões por ano com propaganda, enquanto o Google gera em torno de € 1,2 bilhão com publicidades em buscas na Alemanha.
A Comissão Europeia tem pressionado o Google e outras empresas americanas da internet a encurtarem o prazo pelo qual mantêm dados dos consumidores. O Google tem em geral evitado conflitos com o poderoso órgão de concorrência do Poder Executivo europeu. No entanto, com uma nova comissão prestes a tomar posse, rivais do Google, inclusive a Microsoft, estão aumentando o seu lobby.
"Sempre que você tem uma empresa com mais de 90% de participação em um mercado-chave, é inevitável que as pessoas tenham perguntas a fazer", disse recentemente Brad Smith, diretor jurídico da Microsoft, a jornalistas em Bruxelas. "Dizemos isso com alguma experiência."


Texto Anterior: Dinheiro & Negócios
Testes de genética vão às massas

Próximo Texto: Executivas de bancos ganham mais oportunidades na Índia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.