São Paulo, segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

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Livros difundem causa jihadista

Por PETER GELLING


Editoras na Indonésia apoiam rede terrorista

SOLO, Indonésia - Numa livraria pequena situada numa rua secundária em Solo, jovens funcionários de boinas verdes e barbas ralas vendem livros com títulos como "Esperando pela Destruição de Israel" e "Princípios da Jihad".
Eles trabalham em silêncio, ouvindo a voz de um pregador islâmico incendiário no sistema de som da loja. O sermão do pregador é pontilhado por disparos de metralhadoras.
Outro jovem, um cliente, examina uma pilha de DVDs que fazem o relato dos conflitos na Tchetchênia, no Afeganistão e no Sudão. Camisetas, adesivos e buttons à venda nos fundos da loja ostentam slogans como "apoie seu mujahedine local" e "estrelas do Taleban".
Os livros jihadistas na loja Arofah foram disponibilizados por um grupo pequeno mas crescente de editoras situadas em Solo, cidade comercial conhecida como reduto do islã conservador, e nas suas proximidades.
Muitas das editoras apoiam abertamente as metas ideológicas da Jemaah Islamiyah, uma rede terrorista do sudeste asiático implicada na maioria das grandes explosões terroristas já ocorridas na Indonésia.
As perspectivas de venda e influência das editoras -até agora são cerca de 12- ainda são limitadas. Livros radicais não costumam vender bem na Indonésia, país em que a maioria da população de 240 milhões pratica uma versão moderada do islã.
Um livro de um dos responsáveis pelos atentados em Bali, onde ataques lançados contra boates em 2002 mataram 202 pessoas, é visto como sucesso de seu gênero, mas vendeu até agora apenas cerca de 10 mil exemplares.
Mesmo assim, as editoras chamaram a atenção de alguns especialistas em contraterrorismo, que temem que elas sejam prova da resistência e das interligações do movimento Jemaah Islamiyah na Indonésia.
Desde os atentados de Bali, segundo a maioria das versões, as autoridades indonésias conseguiram enfraquecer bastante a ala militante do Jemaah Islamiyah. Mas elas não têm tido êxito igual no combate à ideologia da organização, que, dizem especialistas em contraterrorismo, se difunde dentro de uma associação informal de grupos que operam em mesquitas, prisões e escolas espalhados pelo país, gerando uma fonte contínua de recrutamento.
"O aspecto mais interessante é o que as operações das editoras revelam sobre as redes superpostas que amarram o Jemaah Islamiyah", disse Sidney R. Jones, analista do grupo de pesquisas independente International Crisis Group, em Jacarta.
"Esta organização não é um produto de importação árabe. É uma organização social extraordinária interligada por famílias, escolas, cultura, treinamento e, agora, empresas."
O International Crisis Group, criado para prevenir ou resolver conflitos mortais, diz que existe uma chance de que o crescimento das editoras de livros radicais possa ter um aspecto positivo: talvez indique que o Jemaah Islamiyah está começando a travar a jihad por meio da escrita, em vez de com atos de violência.
"Algumas editoras podem estar exercendo um papel mais positivo do que negativo, dirigindo os membros do movimento em atividades legalizadas e possibilitando que promovam a mensagem jihadista sem praticar a violência", opinou um relatório do ano passado do International Crisis Group.
Bambang Sukirno, proprietário do Grupo Aqwam e seu selo Jazera, disse que não teme a possibilidade de o governo fechar sua operação.
"A democracia na Indonésia está florescendo, e, se o governo tentasse intervir na indústria de livros, isso seria perigoso", disse ele. "A ingerência apenas suscitaria ondas de resistência e enfraqueceria a democracia."
"Os livros são reflexos de uma nação civilizada", disse ele.


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