São Paulo, segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

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Dinheiro se vai, e China teme perda de capitais

Por KEITH BRADSHER

HONG KONG - Mais dinheiro está fluindo numa direção nova na China: para fora do país.
Alguns chineses estão tão ansiosos por converter seus yuans em outros ativos que, quando uma corretora imobiliária organizou uma viagem aos EUA para visitar leilões de imóveis de hipotecas executadas, os interessados foram tantos que foi preciso recusar quase 400 deles.
Em Xangai, firmas chinesas com liquidez grande estão comprando títulos de dívida de alto rendimento emitidos por companhias americanas em dificuldades, num momento em que muitos investidores ocidentais preferem manter distância de títulos até de empresas sólidas.
Em todo o mundo, empresas chinesas estão mandando de volta a seu país menos dos bilhões de dólares ganhos com as exportações, optando por deixá-los em bancos e contas de corretagem no exterior.
E, em Hong Kong, chineses ricos do continente estão aparecendo em número cada vez maior nas joalherias, em busca de diamantes -dos grandes. "Eles pedem anéis de diamantes de cinco quilates e brincos de seis quilates -três para cada orelha", contou Yollanda Lam, gerente de marketing da rede de joalherias King Fook, de Hong Kong.
Juntas, essas tendências representam uma mudança potencialmente sísmica. Ao mesmo tempo em que cidadãos chineses começam a mandar mais dinheiro para fora do país, investidores estrangeiros também vêm tirando seu dinheiro da China, desacelerando o ritmo dos novos investimentos.
"As pessoas veem que a China está se desacelerando. Então por que guardar seu dinheiro aqui?", disse Henry Lee, gerente de um fundo em Hong Kong.
Ninguém sabe quanto tempo essa tendência vai durar. Se as medidas de estímulo econômico tomadas pela China tiverem êxito, a economia chinesa poderá se recuperar ainda neste ano e começar a atrair o dinheiro de volta na mesma escala em que o fez na última década.
Não há dados confiáveis para avaliar o que motiva as pessoas a tirar seu dinheiro da China. O fluxo total para fora do país chegou a US$ 240 bilhões no quarto trimestre de 2008, mas essa estimativa inclui tudo, desde fuga de capitais até a queda das remessas de lucros obtidos por empresas chinesas no exterior. Seria mais preocupante para a China se uma parcela considerável desses fluxos representasse fugas de capital -ou seja, pessoas tirando seu dinheiro do país porque temem por sua estabilidade.
No momento, o desafio dos economistas consiste em descobrir por que o dinheiro está saindo da China e quanto tempo essa tendência vai durar. A maioria dos especialistas diz que a fuga real de capitais parece ser exceção, não a regra, e as evidências concretas parecem comprová-lo.
Uma razão pela qual o dinheiro vem saindo da China pode ser simplesmente a percepção, por parte de pessoas e empresas, de que há pechinchas melhores em outras regiões.
A corretora imobiliária on-line Soufun.com oferece uma viagem para San Francisco, Los Angeles, Las Vegas e Nova York, começando no próximo dia 24. A demanda superou de longe as vagas disponíveis. "As pessoas no grupo evidentemente estão interessadas em diversificar seus investimentos", disse Zhao Xingyu,organizador da viagem, "e os EUA certamente são um lugar muito atraente agora, já que os preços dos imóveis no país caíram drasticamente".
Outra razão pela qual menos dinheiro pode estar entrando na China é a decisão, tomada pelo governo em julho passado, de suspender a alta do yuan em relação ao dólar, e, no final de novembro, de até permitir uma queda breve em relação ao dólar. Isso desestimulou os investidores que buscavam ganhos cambiais na China.
Stephen Green, economista da Standard Chartered em Xangai, disse em nota de pesquisa que outro fator importante é que os varejistas ocidentais, que enfrentam problemas, podem ter esperado mais tempo para pagar pelos produtos chineses que compram. Se for esse o caso, mais dólares podem começar a entrar na China novamente dentro em breve.


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