São Paulo, segunda-feira, 16 de agosto de 2010

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Indonésios pagam preço alto por peregrinação

Por NORIMITSU ONISHI

JACARTA, Indonésia - Sendo o país do mundo que tem o maior número de muçulmanos, todos os anos é a Indonésia que envia mais peregrinos a Meca. Calcula-se que 1 em cada 10 fiéis que fizeram o Hajj (a peregrinação) no ano passado era indonésio.
Cerca de 1,2 milhão de muçulmanos indonésios estão na lista de espera do governo para ir a Meca, preenchendo a cota anual do país para os próximos seis anos. Mas, se a lista crescente é símbolo de devoção, também se tornou fonte de um dos problemas perenes do país: a corrupção.
Segundo investigadores e grupos anticorrupção, alguns políticos e funcionários do governo fazem mau uso do dinheiro -quase US$ 2,4 bilhões- depositado pelas pessoas cujos nomes estão na lista de espera.
Ajudados por agências de viagem e empresas aliadas, os funcionários exploram as várias exigências do Hajj, administrado pelo governo, para elevar seus próprios lucros, dizem críticos.
O Parlamento e o Ministério dos Assuntos Religiosos acordaram recentemente o preço do Hajj deste ano, após acusações de que parlamentares e burocratas teriam concordado em dividir US$ 2,8 milhões em propinas. As negociações anuais seriam aproveitadas por veteranos para fechar negociatas pessoais, o que a imprensa apelidou de "a máfia do Hajj".
Líderes parlamentares e funcionários estatais negam as acusações de recebimento de propina. Abdul Ghafur Djawahir, alto funcionário do ministério dedicado ao Hajj, disse que os grupos anticorrupção interpretaram equivocadamente os procedimentos do órgão e o tratamento dado aos depósitos da peregrinação.
Eles observaram que o preço cobrado neste ano pelo Hajj, programado para meados de novembro, foi reduzido em US$ 80 em relação a 2009, para US$ 3.342. Mas críticos argumentam que, sem a corrupção e a má administração, o custo poderia ser várias centenas de dólares mais baixo.
Pelas cotas fixadas por autoridades sauditas, 211 mil indonésios poderão ir a Meca neste ano. Destes, cerca de 17 mil irão por conta própria, em viagens particulares cujo custo é várias vezes o do pacote do governo, US$ 3.342 -valor que pode exigir uma vida inteira de economias e a venda de bens.
Hoje, os candidatos a peregrinos precisam fazer um depósito de US$ 2.500 para se cadastrar na lista do Hajj. Na prática, emprestam esse valor ao Ministério até chegar sua vez de fazer a peregrinação, seis anos depois. Segundo o governo, entre 15 mil e 20 mil pessoas se cadastram mensalmente.
O interesse em fazer o Hajj, peregrinação obrigatória para todo adulto muçulmano que tenha condições físicas e financeiras para tal, vem crescendo nos últimos dez anos, à medida que a economia indonésia melhora e seu povo dá mais espaço ao islã em suas vidas. Mas Ian Imron, 38, que entre 1988 e 2006 foi dono de uma agência que promovia viagens privadas de Hajj, disse que o interesse crescente também levou a uma ênfase exagerada no lado comercial da peregrinação.
O número de agências de viagens que têm vínculos com políticos e dispõem de capital farto cresceu muito. Quando ele próprio enfrentou dificuldades financeiras, em 2006, Imron interpretou o fato como um sinal de que era hora de deixar o negócio. "Talvez no início o interesse maior tenha sido a religião", disse. "Mas, depois, passou a ser o aspecto comercial."
Achmad Fachin, 50, vendeu o carro da família para ir a Meca com sua mulher. Atualmente se revolta com a corrupção. "Eles [autoridades] têm de assumir responsabilidade pelo que fazem. Nós estávamos cumprindo nosso dever religioso e pagamos as taxas com sinceridade."


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