São Paulo, segunda-feira, 16 de agosto de 2010

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DIÁRIO DE TREIGNY

Castelo é erguido à moda antiga

Por TEVEN ERLANGER

TREIGNY, França - Maryline Martin trabalhava numa agência que tentava encontrar vagas para desempregados, mas conta que se desiludiu com a profissão. "Decidi, em vez disso, fazer algo por eles [desempregados], nesta minúscula parte do mundo."
Quando criança, ela era fascinada pela Idade Média, com seus castelos, donzelas e cavaleiros. Então, decidiu construir uma réplica de um "château" do século 13, usando apenas as técnicas e ferramentas da época: utensílios de ferro e nada de eletricidade.
O castelo, que foi batizado de Guédelon, é agora um empreendimento autossustentável com 67 empregados, orçamento anual em torno de US$ 3,25 milhões e cerca de 315 mil visitantes por ano.
A intenção é essencialmente acadêmica e didática -tentar usar ou recriar, o mais fielmente possível, as técnicas de construção da época, supostamente o ano 1241. A primeira pedra foi cortada e posta em 1997, e agora o castelo está tomando forma, com suas torres redondas, seu grande salão e seus arcos adornados e pontiagudos.
As paredes estão tão altas que para erguer as pedras é preciso usar um sistema de polias, operado por um homem que anda em uma grande roda de madeira, como um rato de laboratório.
Uma pedreira abandonada e o bosque circundante -adquiridos por Martin em parceria com seu vizinho Michel Guyot, que restaurara o vizinho castelo de Saint Fargeau- continham os carvalhos, o barro, a areia e a água (achada, segundo ela, por adivinhos) necessários para a construção.
Os operários produzem todas as tábuas, a argamassa e os tijolos. Quase todas as pedras saem da pedreira. "O mais difícil é entrar na lógica do período", disse o diretor do lugar, Florian Renucci, que já trabalhou na restauração de monumentos nacionais como a ponte Neuf, em Paris.
"Não preciso comer mamute nem achar que o mundo é plano para construir um castelo. Mas preciso pensar num caminho que me leve para a autenticidade do processo." Muita coisa é obscura a respeito do período e das suas técnicas, e nem todos os historiadores acham que Guédelon seja suficientemente fiel.
Jean-Jacques Schwien, que leciona arquitetura medieval na Universidade de Estrasburgo, disse que no térreo da torre principal não deveria haver uma porta, já que "elas só apareceram no século 15".
Mas Martin e Renucci afirmam que não vão tentar explicar tudo e sentem que conseguiram redescobrir muita coisa, como uma receita decente de argamassa à base de cal e um método para criar os tetos abobadados da época.
O plano é terminar o castelo dentro de 12 a 15 anos, com seu grande salão, as instalações familiares, uma escadaria grandiosa e uma torre com quase 29 metros. Mas o propósito do exercício é a construção, não a conclusão.
Para Martin, Guédelon é "uma aventura humana delirante". "Quando colocarem a última pedra será terrível, terrível."


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