São Paulo, segunda-feira, 16 de agosto de 2010

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África do Sul busca seu espaço como inovador

Por MATTHEW SALTMARSH

Para muitos estrangeiros, a África do Sul tem sido considerada um ambiente de negócios instável, com uma economia excessivamente dependente dos recursos naturais.
Agora, o governo e uma nova safra de empreendedores estão otimistas quanto a mudar essas percepções.
Um grupo de empresas está trabalhando em setores como energia limpa, aviação, engenharia, compras militares e mineração, na esperança de beneficiar-se das expectativas positivas de crescimento na região.
O Estado espera que isso resulte em geração de empregos e outros benefícios, e faz sua parte oferecendo financiamento direto e outros incentivos, além de investir em pesquisa acadêmica.
"Somos um produtor e exportador", disse Naledi Pandor, ministra de Ciência e Tecnologia. "Agora estamos dizendo: vamos nos tornar um inovador."
Os muitos obstáculos da África do Sul -especialmente o desemprego, a criminalidade, a imigração ilegal, a corrupção, a desigualdade de renda e os problemas da saúde- não desapareceram.
Mas executivos e autoridades locais acreditam que o ambiente esteja melhorando e que o sucesso do país na recente Copa do Mundo tenha sido um agente catalisador.
"Nunca houve tamanha oportunidade para a África do Sul quanto hoje", disse Ivor Ichikowitz, sul-africano de ascendência lituana que comanda o Paramount Group, empresa dos setores aeroespacial, bélico e de segurança.
"A África é o atual campo de batalha econômico, a última fronteira. Chineses e indianos estão entrando com enormes quantidades de capital barato e uma abordagem muito aberta."
Com sede perto de Johannesburgo, a Paramount produz veículos com proteção antiminas, vendidos principalmente a clientes africanos para missões de paz. A empresa também reforma e moderniza caças Mirage e financia e abastece as forças de segurança.
O PIB sul-africano deve crescer 3,3% neste ano e 5% no próximo, segundo a Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico. A mineração representa quase um décimo da economia, mas a África do Sul também tem uma indústria desenvolvida, responsável por mais de 50% das exportações. No entanto, há uma sensação de que os avanços globais têm sido escassos e que às vezes os benefícios podem migrar.
"Há muitas boas ideias aqui e uma forte história de engenharia e design, mas não comercializamos nem construímos negócios sustentáveis -vendemos isso para os outros", disse Diana Blake, diretora de vendas e marketing da Optimal Energy, empresa que se prepara para produzir o Joule, primeiro carro movido a bateria da África.
Exemplos disso incluem a Zebra, uma bateria avançada desenvolvida por um instituto de pesquisas em Pretória, mas hoje produzida na Suíça, e uma tecnologia de películas geradoras de energia solar, desenvolvida na Universidade de Johannesburgo e agora produzida na Alemanha.
"Há agora um enorme ímpeto para manter o valor na África do Sul", disse Blake. A Optimal recebeu investimentos do fundo nacional de inovação; o governo sul-africano é dono de mais da metade dele.
O Joule tem velocidade máxima de 135 km/h e autonomia de 300 km. Será lançado a um preço de US$ 30 mil a US$ 38 mil. Cerca de 80% a 90% das encomendas devem vir do exterior quando o carro chegar aos "showrooms", em 2013; a empresa espera exportar para Austrália, Israel e Europa.
Uma companhia menor que também está sendo ajudada pelo Estado é a Adept Airmotive, voltada para a produção de motores eficientes para aeronaves leves.
"Acho que a África do Sul provavelmente tem um dos melhores ambientes para uma nova empresa entre todos os lugares", disse o diretor-gerente Richard Schulz na sua sede, em Durban, onde emprega sete projetistas, terceirizando a produção para várias fábricas.
A África do Sul também espera ganhar a concorrência para ser a sede de um gigantesco radiotelescópio, o SKA (Square Kilometer Array). Esse projeto, uma colaboração entre 19 países, deve ser o mais poderoso radiotelescópio já construído, atraindo investimentos correlatos significativos nos campos da astrofísica e cosmologia.
A construção deve custar quase US$ 2 bilhões, a partir de 2013. As primeiras observações estão previstas para 2017, e a operação completa, para 2022. "Nós, na África do Sul, não podemos nos dar ao luxo de sermos pessimistas", disse a ministra Pandor. "Saímos de tempos tão terríveis que temos de acreditar que somos capazes."


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