São Paulo, segunda-feira, 16 de agosto de 2010

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CARL DIEHL

ENSAIO

Candidato pode ser bom no papel, mas não ter noção da realidade

Sou cofundador de uma pequena empresa de exercícios físicos com sede em San Francisco. Temos uma operação de franquia, a Bar Method, com 35 academias de ginástica, e uma empresa de mídia que vende DVDs de exercícios físicos.
Há pouco tempo nossa empresa encerrou o processo de entrevistas de candidatos a três cargos de nível principiante.
A maioria das cartas dos candidatos dizia algo mais ou menos assim: "Caro Empregador: sou uma pessoa maravilhosa, possuo qualificações fantásticas e experiência espantosa. Portanto, o senhor deveria me contratar. Obrigado, Candidato ao Emprego". A impressão era que a maioria dos candidatos tinha lido um grande número de artigos sobre "como ser contratado". Eles exageravam tremendamente suas qualidades e habilidades e deixavam por completo de perceber o que eu estava procurando.
A maioria dos candidatos dava a impressão de que eram pessoas fantásticas com ótimas habilidades e pelo menos alguma experiência. Mas será que conseguiam pensar criativamente e solucionar problemas? Quase todos disseram que sim, mas eu precisava de alguma prova disso.
No anúncio, eu deixara entender que enxergávamos o cargo inicial como o ponto de partida de uma trajetória que levaria a responsabilidades muito maiores, mas poucos dos candidatos deram sinal de terem tomado nota dessas pistas. Os que o fizeram foram chamados para entrevistas.
Em mensagem de e-mail pedi que cada um deles examinasse nosso site na internet e os de nossos concorrentes e conversasse comigo sobre o que nossa marca representa e como nós nos diferenciamos de nossos rivais.
Em suas entrevistas, em vez de refletir sobre o significado da marca, a maioria dos dez candidatos simplesmente repetiu o que o site dizia sobre a história de nossa empresa. Nossas duas finalistas me deram "insights" inteligentes sobre nosso posicionamento no mercado e o que ele revelava sobre a marca.
Eu também dissera no anúncio que a empresa estava especialmente aberta a estudantes de artes liberais. Nas entrevistas, descrevi uma série de tarefas e projetos que exigem algum raciocínio analítico e criatividade.
Perguntei aos entrevistados se o que tinham aprendido na faculdade poderia ser útil à nossa empresa. Eu tinha a esperança de encontrar pessoas que pudessem aplicar o crescimento intelectual conquistado na universidade aos problemas e projetos da vida real que eu acabara de descrever.
Em vez disso, a maioria dos candidatos falou de habilidades específicas que tinha aprendido em seus cursos. Não era o que eu procurava.
Contrastando com isso, uma candidata me falou de como dominara uma língua estrangeira e como essa experiência poderia ser aplicada à busca de uma solução para alguns dos problemas que eu apresentara. Ela foi uma das finalistas para o cargo.
Para concluir, entreguei aos entrevistados nove parágrafos que correspondiam aos nove tipos de personalidade do Eneagrama -um sistema para a compreensão da personalidade- e perguntei em qual tipo se encaixavam melhor.
O teste de verdade se deu quando perguntei a eles sobre o "lado sombrio" de um dos tipos de personalidade. É um tipo que foca a performance e a realização de tarefas, mas pode ignorar suas necessidades emocionais.
É evidente que ter consciência desse tipo de ponto fraco é de grande importância em uma empresa. A maioria dos candidatos não fazia ideia do que eu procurava. Mas as duas finalistas me disseram que, enquanto pessoas com esse tipo de personalidade podem ser voltadas a alcançar resultados, também podem não ter consciência dos efeitos que seus atos e suas palavras têm sobre outras pessoas. Isso demonstrou que elas possuíam a maturidade emocional que eu buscava.
Uma de nossas finalistas estava se formando em francês; a outra era violinista e estudava música na universidade. Contratamos a violinista. Ela tinha demonstrado que sabia usar sua imaginação, seu intelecto, sua energia e seu poder de concentração para buscar soluções para os problemas da vida real que enfrentamos no dia a dia.


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