São Paulo, segunda-feira, 16 de agosto de 2010

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Equipamento experimental transforma ideias em atos

Por CLAUDIA DREIFUS

John P. Donoghue, 61, professor de engenharia e neurociência na Universidade Brown, em Rhode Island, estuda como os sinais do cérebro humano se combinam com a eletrônica moderna para ajudar pessoas paralíticas a obter um maior controle de seu entorno. Ele projetou uma máquina, chamada BrainGate (portão do cérebro), que usa o pensamento para mover objetos.

Pergunta. O que é exatamente o BrainGate?
Resposta. É uma maneira de pessoas que foram paralisadas por derrames, lesões da coluna ou esclerose lateral amiotrófica conectarem seus cérebros com o mundo exterior. O sistema usa um pequeno sensor que é implantado na parte do cérebro da pessoa e que gera os comandos de movimento.
Esse sensor capta os sinais cerebrais e os transmite para um plugue preso ao couro cabeludo da pessoa. Os sinais, então, vão para um computador programado para traduzi-los em atos simples.

Por que mover os sinais para fora do corpo?
Porque em muitas pessoas paralíticas houve uma ruptura entre o cérebro e o resto do sistema nervoso. Seus cérebros podem ser plenamente funcionais, mas os pensamentos não vão para lugar algum. O que o BrainGate faz é superar a conexão rompida. Livre do corpo, o sinal é dirigido para máquinas que transformam pensamentos em atos.

O senhor criou um sistema nervoso biônico?
Bem, uma parte dele. Nós fizemos isso com componentes físicos -fios, computadores, eletrônica, em vez de células-tronco. Esse seria um reparo biológico. Estamos fazendo progressos no reparo mecânico. Até agora, cinco pessoas receberam o implante. Estamos definitivamente no início de conseguir que as pessoas façam coisas, como servir-se de um copo de água.

Como esse projeto começou?
Nos anos 80, quando dirigia meu próprio laboratório, trabalhamos para criar tecnologias que nos permitissem detectar a atividade cerebral contínua. Isso incluiu desenvolver o implante-chave do BrainGate. Conseguimos decodificar sinais do cérebro e descobrir como eles se relacionavam ao movimento.

O senhor descobriu o que os sinais significavam?
Sim. Houve um momento de realização em 2004, depois que o primeiro participante da pesquisa, Matt, teve o sensor implantado. Ele havia sofrido uma lesão na coluna em um acidente. Ligamos o sistema BrainGate e vimos que seu cérebro estava ativo. Além disso, a atividade de suas células cerebrais mudava quando ele imaginava movimentos diferentes. Conseguimos traduzir sua atividade cerebral para que ele pudesse controlar o movimento de um cursor em uma tela de computador. O mais surpreendente foi que vimos a parte do movimento no cérebro se ativar, apesar de não haver movimento possível. Vimos que simplesmente por imaginar um movimento ele podia ativar essa parte do cérebro.

Quando BrainGate sairá da fase experimental?
O próximo passo é testar um implante sem fio e menor para eliminar o plugue que as pessoas hoje usam na cabeça. E estamos trabalhando para miniaturizar o sistema. Nosso objetivo é tornar a vida o mais normal possível para as pessoas com paralisia.


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