São Paulo, segunda-feira, 16 de agosto de 2010

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MARINE LE PEN

Nome conhecido desponta na ultradireita francesa

Por STEVEN ERLANGER

NANTERRE, França - Marine Le Pen tentou ao máximo fugir do pai e da política, diz ela, pois se sentia oprimida pela infâmia da sua herança, que a seguia por toda parte.
Mas, agora, ela deve suceder a Jean-Marie Le Pen como líder da Frente Nacional (FN), o partido ultradireitista que prega a pureza e o excepcionalismo da França, em detrimento da imigração e da União Europeia.
"Eu me encontro lá, na política, quando na maior parte da vida tentei escapar disso", afirmou ela, que se sente cumprindo um destino -ainda que não tão sublime quanto o de Joana d'Arc, personagem-símbolo de seu partido.
"Nasci e cresci com a política, comia política, dormia política", disse. "Tentei fugir disso porque queria ter meu próprio emprego, mas, afinal, essa foi a única coisa que me entusiasmou."
Como seu pai, de 81 anos, deve se aposentar no começo de 2011, Marine, 41, pretende empunhar a bandeira da FN no século 21, enfrentando os novos inimigos -inclusive o islã- que supostamente ameaçam a França sagrada.
É difícil ver Marine Le Pen como vítima, mas a FN prospera em cima do sentimento de vitimização dos seus eleitores, que veem um povo nobre pisoteado por forças supranacionais, empobrecido pela globalização e invadido pelos imigrantes.
Ela diz que sua própria infância, porém, foi lamentável. Mais jovem de três filhas de um político vilipendiado, que nunca hesitou em recorrer à xenofobia, ao medo e ao antissemitismo, Marina muitas vezes se sentia no ostracismo. Quis ser advogada, mas, diz ela, o ódio generalizado contra o seu pai atrapalhou.
Em 1976, aos oito anos, a casa da família foi explodida. "De repente, eu percebi os perigos que pesavam sobre mim, sobre o meu pai, sobre a minha família", afirmou. Outro choque foi o divórcio dos pais, oito anos depois, quando sua mãe, Pierrette, se mudou para os EUA com o biógrafo do pai e posou para a revista "Playboy".
Marine Le Pen é "vice-presidente-executiva de treinamento, comunicação e propaganda" da FN e é eurodeputada desde 2004. Duas vezes divorciada, tem três filhos.
Jean-Yves Camus, cientista político do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas, disse que Marine quer mudar o partido, mas que seu pai é um empecilho.
"É um ônus, e ela provavelmente não conseguirá se livrar disso até que ele morra", disse Camus, acrescentando que Marine não partilha do antissemitismo paterno, nem nega o Holocausto.
Para a cientista política Nonna Mayer, Marine "encarna uma nova geração; ela quer 'déringardiser' o partido", ou seja, deixá-lo menos "brega".
O presidente Nicolas Sarkozy tem tentado absorver o eleitorado da FN, posicionando-se contra véus islâmicos que cubram totalmente o rosto e restringindo a imigração. Mas Camus disse que muitos seguidores da FN que votaram em Sarkozy voltaram ao partido nas eleições regionais.
Marine Le Pen compartilha das crenças centrais do pai. A imigração deveria parar, e a cidadania por nascimento não deveria ser automática, segundo ela. "Quando você vai ver os franceses de ascendência imigrante nos subúrbios e pergunta 'Você é francês?', ele diz: 'Não, sou muçulmano'."
"Houve um recuo para as identidades não francesas, porque drenamos da identidade francesa o seu conteúdo", disse ela. "Então, como pode alguém se orgulhar? Passamos toda a nossa vida dizendo: 'Somos bastardos, colonizadores, promotores da escravidão'."
A França, afirmou ela, deu muito à civilização. "Há algo especial com a França. Se o modelo francês desaparecesse, seria uma perda para o mundo inteiro."


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