São Paulo, segunda-feira, 16 de agosto de 2010

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JULIA PEREZ

Celebridade sensual entra na política indonésia

Por NORIMITSU ONISHI

JACARTA, Indonésia - Julia Perez, em um dia recente, não prestava atenção aos transeuntes em um shopping center que, olhando para seu vestido justo e decotado, confirmavam que tratava-se de fato da cantora, atriz, modelo e, possivelmente em breve, política. A maneira aberta como Perez faz uso de sua sensualidade lhe valeu multidões de fãs na Indonésia, mas também a condenação de setores sociais conservadores.
No dia seguinte, porém, ela precisou trajar um vestido tradicional. O governante de uma cidade na região central de Java ia lhe conferir um título, ela explicou. "Et voilà!", disse Perez, que tende a falar um misto de indonésio, inglês e francês. "É uma grande honra para mim."
Desde que retornou à Indonésia, três anos atrás, Julia Perez, 30, mais conhecida como Jupe, rapidamente tornou-se uma das celebridades mais festejadas do país. Em uma sociedade cada vez mais polarizada entre os partidários do islã político e os da abertura em estilo ocidental, Perez lidera uma investida em uma direção, com seus shows e vídeos musicais sensuais e comentários francos sobre sexo.
Ela foi repreendida recentemente após anunciar sua candidatura em uma eleição local de dezembro em Pacitan, cidade do leste de Java que, por acaso, é também a cidade natal do presidente Susilo Bambang Yudhoyono.
Autoridades propuseram a modificação das leis eleitorais regionais de modo a proibir a candidatura de pessoas com "falhas morais". Mas críticos contra-atacaram, observando que os políticos indonésios não são exatamente famosos por sua ética.
Jupe não tem experiência política e diz que, se for eleita, quer simplesmente melhorar a vida das pessoas comuns.
"Acho que apenas cerca de 30% das pessoas sentem que este país é uma democracia", disse.
"E daí se sou sexy? Se você me vê e me acha sexy, ainda vai ter o que comer amanhã. Mas se eu roubasse seu dinheiro, amanhã você não teria o que comer, não poderia ir à escola e seria um homem sem esperança."
Nascida na Indonésia com o nome de Yuli Rachmawati, Perez cresceu em uma família comandada por sua mãe solteira. Muitas vezes, só tinham arroz e cebolinhas fritas para comer. "Nosso único sonho era encontrar comida suficiente", disse.
Quando estava perto de concluir a escola secundária, ela fez amizade com uma mulher indonésia um pouco mais velha, que a matriculou em um curso de secretariado.
Ela foi trabalhar como secretária júnior em uma empresa holandesa de móveis que atua na Indonésia e começou a namorar o filho do dono. Foi com ele para a Holanda, onde viveu três anos, mas afastou-se do namorado.
De férias na Espanha, Perez conheceu seu futuro marido, um francês que lhe deu seu sobrenome, a levou à França e à apresentou à indústria da moda. Em pouco tempo ela passou a aparecer em revistas masculinas.
Retornando em 2006 para passar férias na Indonésia recém-democrática, ela encontrou artistas que estavam ampliando os limites antes rígidos da sexualidade na cultura pop, ao mesmo tempo em que grupos islâmicos cada vez mais poderosos propunham uma versão mais restritiva do islã.
Perez, que é muçulmana, não demorou a ser inundada de ofertas. Em 2007, ela deixou seu marido na França, e o casal de divorciou mais tarde.
Alguns meses atrás, contudo, líderes políticos da cidade de Pacitan chegaram inesperadamente com um convite para que ela se candidatasse a vice-líder do distrito. Sutikno, o líder local do partido oposicionista Hanura, disse que sua legenda e uma coalizão de outros partidos procuravam uma celebridade para atrair investidores à região.
"Ela é franca com relação a quem é", disse Sutikno, que, como muitos indonésios, usa apenas um nome. "Não nos importa que ela seja sexy."
A escolha de Perez foi recebida com ceticismo em alguns setores. Ela disse que ainda está aprendendo sobre política. "Isso me assusta. Não deveria dizer isso, mas estou confusa. Algumas pessoas dizem na minha frente 'é isso mesmo, está certo, Julia'. Mas, no dia seguinte, pelas minhas costas, dizem 'isso não presta'. Você me entende?"
"Peut-être c'est ça la politique", disse ela. "Talvez a política seja isso."


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