São Paulo, segunda-feira, 29 de junho de 2009

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ENSAIO/Noam Cohen

Fotos de gatinhos ajudam blogs a driblar censura

Censurar a internet de forma imperceptível é o sonho dos governos repressivos. Afinal, os internautas mais censurados são aqueles que nunca chegam a tomar conhecimento da censura. O governo iraniano está movendo uma repressão à internet, na tentativa de subjugar os protestos que se seguiram à eleição presidencial de 12 de junho. Ao mesmo tempo, mandou a polícia às ruas para reprimir manifestantes e jornalistas estrangeiros.
Até agora, porém, o governo tem descoberto como é difícil tentar controlar a internet com meias medidas. Pelo fato de o esforço de censura ser tão evidente —na realidade, transparente—, uma batalha vem sendo travada on-line para manter o Irã conectado digitalmente com o mundo. Simpatizantes fora do país têm guiado iranianos ao acesso seguro à internet, abrigando e divulgando materiais proibidos no interior do país.
Os líderes iranianos se esqueceram de levar em conta as implicações do que se pode chamar de a Teoria Gatinho Bonitinho de Censura da Internet, proposta por Ethan Zuckerman, pesquisador sênior do Centro Berkman de Internet e Sociedade na Escola de Direito de Harvard. A ideia dele é simples: a maioria das pessoas usa a internet para curtir a vida, e uma das maneiras pelas quais as pessoas espalham alegria é compartilhando fotos de gatinhos bonitinhos.
Assim, quando um governo censura a web, faria bem em pensar duas vezes: “Quando o governo bloqueia sites, os gatinhos sofrem os efeitos colaterais”, escreveu Zuckerman para uma conferência recente. Pessoas “que não têm o menor interesse em estripulias presidenciais tomam consciência de que seu governo teme o discurso on-line a tal ponto que se dispõe a censurar os milhões de vídeos banais”, apenas para “poder bloquear alguns poucos vídeos políticos”.
Segundo Zuckerman, o trabalho de censura do governo iraniano foi dificultado porque existe no Irã uma comunidade dinâmica de blogueiros, fato que ele atribui a uma campanha iraniana anterior de censura à mídia impressa tradicional, em 2003. Pessoas que escreviam correram à internet. Esse fato, somado ao histórico de restrição a ferramentas de mídia social, garantiu que um grupo de comunicadores aprendesse novas maneiras de transmitir suas mensagens —com frequência conectando-se a um computador de fora do Irã.
O fato de os protestos políticos estarem sendo mostrados on-line traz benefícios práticos. Cria mais uma barreira à censura. Além dos benefícios, há algo de satisfatório no fato de um país ser ajudado por blogueiros comuns que de repente manifestam sua habilidade organizacional e sua crença nos princípios políticos fundamentais.
Mas Zuckerman me fez lembrar: “É preciso ter a espada em casa. Você não vai querer ser obrigado a sair para comprar a espada em cima da hora.”


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