São Paulo, segunda-feira, 29 de agosto de 2011

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À sombra do nazismo, ultradireitistas espreitam

Por NICHOLAS KULISH

STUTTGART, Alemanha - A suástica é ilegal aqui, assim como a saudação a Hitler. Mas os alemães aprenderam, após décadas lutando contra essas manifestações, que as ideias por trás delas não podem ser banidas ou escondidas.
A questão que as autoridades alemãs discutem hoje é se tentar esconder essas ideias sob o tapete não as torna mais radicais no curto prazo, e talvez até mais atraentes num futuro distante, precisamente por serem mantidas proibidas.
No debate sobre a ascensão da extrema direita na Europa, a Alemanha manteve-se, por razões óbvias relacionadas à sua história, uma exceção. Aqui não existem partidos direitistas comuns no resto da Europa.
Mas as idéias anti-islâmicas e anti-imigração que se arraigaram em todo o continente apareceram no "mainstream" alemão no ano passado Um livro escrito por um executivo do Banco Central, Thilo Sarrazin, culpando os muçulmanos pelo "emburrecimento" do país, vendeu mais de 1 milhão de exemplares. Em outubro de 2010, a chanceler Angela Merkel declarou que o multiculturalismo havia "fracassado totalmente".
No mesmo mês, um estudo da Fundação Friedrich Ebert, ligada ao Partido Social Democrata (esquerda), concluiu que quase um terço dos alemães acredita que os estrangeiros estão aqui para se aproveitar do Estado de bem-estar social, e quase 60% defendem restrições à prática do islamismo.
"Há um grande potencial no ressentimento e na xenofobia que os partidos de direita populista poderiam aproveitar", disse a deputada social-democrata Daniela Kolbe, oriunda da antiga Alemanha Oriental, onde a direita tem sido mais forte. "Meu maior medo é que surja alguém carismático que explore esse potencial."
Até agora, ninguém deu esse passo. Os tabus históricos são simplesmente fortes demais.
"Muitos não se sentem confortáveis em expor em público suas opiniões, porque elas são imediatamente demonizadas", afirmou Alexander Neidlein, dirigente do Partido Nacional Democrático (ultradireita) aqui no Estado de Baden-Württemberg (sudoeste). "Em outros países europeus é diferente, porque eles não têm a mesma história que nós."
Ao contrário de partidos populistas como o Verdadeiros Finlandeses, o Partido Popular Dinamarquês ou a Frente Nacional francesa, os nacional-democratas não têm assentos no Parlamento federal.
Nos últimos anos, eles sofrem com tensões internas e dificuldades jurídicas e financeiras.
Mas, enquanto as turbulências dos últimos meses - a crise do euro, os protestos em Atenas e Madri e os distúrbios em Londres - motivam temores em toda a Europa, Neidlein vê uma oportunidade nesse ambiente.
"Quanto piores ficarem a crise financeira e o fracasso da sociedade multicultural", disse ele, "mais cedo as pessoas irão despertar e adotar ideias políticas mais radicais".
Baden-Württemberg foi notícia na Alemanha quando, na semana seguinte ao massacre na Noruega, a polícia realizou buscas em 21 casas durante investigação sobre atuação de um grupo extremista de direita que se autodenomina Standarte Württemberg.
Uma pistola e cem cartuchos de munição foram apreendidos em operações policiais realizadas ao amanhecer.
Em abril, em Winterbach, extremistas atacaram um grupo de alemães, turcos e italianos que faziam um churrasco, espancando-os e ateando fogo ao chalé de madeira onde alguns deles haviam se refugiado. Não houve vítimas fatais.
"Os extremistas se estabelecem onde as pessoas não se defendem", disse Helmut Pautler, prefeito da pequena cidade de Rheinmünster.
Perto dali, em Sölligen, a taverna Gasthaus zum Rössle costumava receber em seus shows simpatizantes da extrema-direita vindos da Bélgica, França e Áustria.
Günther Sick fechou o estabelecimento no final de junho, por pressão do governo local e por causa dos repetidos atos de vandalismo.
As janelas quebradas e a parede escurecida por uma tentativa de incêndio são testemunho da hostilidade provocada pelas apresentações de grupos ultradireitistas no bar.
Mas Sick não acredita que a repressão funcione. "A pressão não ajuda a se livrar deles", afirmou. "Ela só incentiva o seu radicalismo."
Durante a entrevista na prefeitura de Rheinmünster, Pautler não tinha motivos para comemorar, e não quis tirar fotos.
O seu retrato e o endereço da sua família haviam sido postados em um site de um grupo radical, como represália por seu empenho para que a taverna fosse fechada.

Contribuiu Stefan Pauly, de Berlim


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