São Paulo, segunda-feira, 29 de agosto de 2011

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Grupo ligado à Al Qaeda é ameaça crescente à Nigéria

Terror islâmico finca raízes em países aliados do Ocidente

Por ADAM NOSSITER

MAIDUGURI, Nigéria - Uma obscura insurgência islâmica que assola o norte da Nigéria parece estar se ramificando e colaborando com afiliadas da Al Qaeda.
Autoridades ocidentais e analistas estão alarmados. Antes viam os militantes daqui como uma ameaça em grande medida isolada, ainda que mortífera.
Não imaginavam que pudessem representar perigo maior. Mas a explosão de ontem à sede da ONU em Abuja provou o contrário.
Há apenas dois anos, o grupo islâmico Boko Haram parecia à beira da extinção. Soldados nigerianos bombardearam sua sede e mataram o seu líder, causando centenas de mortes.
Agora, os insurgentes atacam quase diariamente os militares, a polícia e os que se opõem à lei islâmica, usando bombas caseiras detonadas por controle remoto, características da Al Qaeda do Magreb Islâmico (AQMI), segundo autoridades ocidentais.
O temor é de que os jihadistas estejam espalhando seu raio de atuação pelo continente e fincando raízes em um Estado aliado do Ocidente, que não era considerado um foco do terrorismo global.
"Onde eles estão obtendo esse conhecimento sobre explosivos improvisados?", perguntou Kashim Shettima, o novo governador daqui. "Acredito que eles estejam fazendo esforços para receber ajuda da rede global do terrorismo."
O governo nigeriano tem reagido com uma repressão tão ampla e dura que muitos moradores veem os militares como um perigo maior que o Boko Haram.
Cerca de 140 pessoas morreram na violência desde janeiro, segundo a Anistia Internacional, incluindo dezenas de civis vítimas dos militares, cujas táticas brutais estariam gerando mais simpatizantes para a causa militante, sugerem analistas e moradores daqui.
A raiva contra os militares é inequívoca.
"Depois de saquearem as propriedades das pessoas, eles mataram inocentes", disse Yusuf Babagana, descrevendo uma incursão do Exército após a explosão de uma bomba no bairro de Abbangaram, em julho. Pelo menos cinco morreram. "Eles estão saqueando, matando e até estuprando."
Um porta-voz militar rejeitou as acusações. "Isso não é correto", disse o coronel Victor Ebhaleme. "Temos um código de conduta, regras de engajamento."
Autoridades ocidentais expressam preocupação com o aparente intercâmbio transnacional entre os grupos extremistas.
"Há muito mais coordenação", disse um funcionário ocidental.
No ano passado, depois de dezenas de muçulmanos serem mortos na cidade de Jos, um líder da AQMI prometeu, numa declaração divulgada por sites islâmicos, fornecer treinamento e armas.
O objetivo seria que os muçulmanos da Nigéria "reajam à agressão da minoria cristã". Ele disse também que ajudaria a vingar o assassinato do líder do Boko Haram, em 2009.
Andrew Lebovich, pesquisador da Fundação Nova América, disse que as bombas caseiras usadas pelo Boko Haram são uma marca registrada da AQMI.
Voltar os olhos para a Nigéria seria algo "natural" para a AQMI, segundo Paul Lubeck, professor da Universidade da Califórnia, Santa Cruz, que estuda a região.
"Eles são jihadistas globais", afirmou. "É automático que para se expandir você olhe para o maior Estado muçulmano da África."


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