São Paulo, segunda-feira, 29 de agosto de 2011

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Bolshoi: o retorno glorioso de um teatro em frangalhos

Por SETH MYDANS

MOSCOU - Depois de seis anos de atrasos, escândalos, demissões e renúncias, gastos que superaram de longe os valores previstos e acusações de desfalque, além de desafios arquitetônicos imprevistos, o Teatro Bolshoi, maior joia das artes russas, tem reabertura prevista para dia 28 de outubro, na capital russa.
Redes verdes ainda cobrem sua fachada, e as cadeiras e cortinas estão envoltas em plástico, mas os ensaios no novo palco, que é a "casa" do Ballet Bolshoi e da Ópera Bolshoi, estão previstos para recomeçar em setembro.
"O Bolshoi é meu lar. Vou ficar feliz em poder voltar para casa", disse a mezzo-soprano Elena Obraztsova. "Estou feliz porque o Bolshoi finalmente está voltando à vida e recuperando seu esplendor do passado."
O teatro de cor creme e com colunatas, agora mais firme depois de ter sido escorado sobre 7.000 novas estacas, foi restaurado à glória de sua época czarista. O auditório ressoante tem formato de violino e tapeçarias de seda, que reluzem à luz de um gigantesco candelabro de vidro.
Em alguns momentos o trabalho de restauração foi uma verdadeira caça a relíquias: pesquisadores descobriram uma fábrica que pôde reproduzir as únicas duas lajotas originais do piso, e outra que criou um tecido igual ao usado na decoração original do teatro. Foram três anos para tecer 750 metros do material.
O processo vem sendo longo, complexo e constrangedor, com prazos finais remarcados desde 2005, quando o teatro foi fechado para renovações. O custo crescente é financiado pelo governo federal e já soma US$760 milhões, segundo o Ministério da Cultura.
Construído em 1825, o Bolshoi quase foi destruído pelo fogo em 1853, sendo reaberto em 1856. Foi atingido por bombas na Segunda Guerra Mundial e usado como ponto de encontro para reuniões políticas nos tempos soviéticos.
Autoridades locais disseram que apenas depois de iniciados os trabalhos da restauração atual é que os arquitetos e construtores descobriram o grau de urgência em que os reparos eram necessários.
"Eles não sabiam a condição péssima em que a construção se encontrava. Não era apenas crítica, era catastrófica. O teatro poderia ter desabado", disse Mikhail Sidorov, porta-voz da Summa Capital, a empresa responsável pela renovação desde 2009.
O primeiro atraso no cronograma das obras aconteceu em fevereiro de 2008, quando foi anunciado que a fachada do teatro estava desmoronando, com suas paredes e colunas marcadas por 17 rachaduras verticais, enquanto os alicerces oscilavam perigosamente ao menor tremor.
Enfraquecidos pela deterioração das estacas de carvalho, os alicerces tiveram que ser removidos pedaço por pedaço, em um trabalho manual, disse Sidorov. "Se um único equipamento pesado tivesse sido usado aqui, teria sido o fim do Bolshoi."
Em fevereiro de 2009 o ministro da Cultura, Aleksandr Avdeyev, anunciou que o prazo final da obra seria prorrogado para 2011, por causa de profissionais cujo trabalho era "pouco caro, mas não de boa qualidade".
Em setembro do mesmo ano, promotores abriram uma investigação para apurar um possível desvio, alegando que o Escritório Federal de Restauração e Reconstrução pagou uma empresa três vezes pelo mesmo serviço, um valor de US$31 milhões.
Obraztsova se apresentará na primeira produção do Bolshoi reaberto, a ópera "Ruslan e Ludmilla" em 4 de novembro. Salvos possíveis imprevistos, o ano termina entre soldadinhos de brinquedo e a Fada da Ameixa do Açúcar, com o balé "Quebra-Nozes".


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