São Paulo, segunda-feira, 30 de maio de 2011

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Malick entra em questões espirituais

Por DENNIS LIM
CANNES, França - O vencedor deste ano da Palma de Ouro de Cannes, Terrence Malick, um cineasta conhecido por não dar entrevistas, finalmente, apresentou seu filme mais recente -apenas o quinto em 38 anos.
"A Árvore da Vida" tem astros, espetáculos celestiais e dinossauros digitais, mas não é algo que alguém enxergue como um blockbuster de verão. Ainda mais hermético que os dois filmes anteriores de Malick, "Além da Linha Vermelha" (1998) e "O Novo Mundo" (2005), "A Árvore da Vida" narra a história de uma família texana nos anos 1950 (os pais são representados por Brad Pitt e a relativa novata Jessica Chastain) cujo filho mais velho, quando se torna adulto, é encarnado por Sean Penn. Mas também encara as origens da vida e a história do Universo.
Podemos supor com segurança que, para seu autor, alguém que defende ferrenhamente sua privacidade, esse projeto também seja algo profundamente pessoal. Alguns aspectos do filme correspondem com os poucos dados biográficos de Malick que vieram à tona ao longo dos anos: a infância no Texas, um pai rígido, a morte de um irmão. "Quando primeiro a li, fiquei chocado com o quão pessoal é a história", disse o desenhista de produção Jack Fisk, que conhece Malick desde que ambos eram estudantes de cinema. "Mas, quando assisti ao filme, pensei apenas o quanto é universal."
Malick buscou uma espontaneidade em estilo documental em "A Árvore da Vida".
"É mais encontrado do que planejado", disse Emmanuel Lubezki, que assina a fotografia. "Terry dizia 'não se preocupe em captar um pedaço do diálogo ou uma interação dos atores, mas tente captar a sensação de estar em um ambiente com eles pela primeira vez." O ambiente reinante no set correspondia ao tema do filme: uma consciência intensificada do mundo. "Quando você filma com Terry, todos ficam muito consciente do espaço em volta", disse Lubezki.
O filme traça uma distinção entre o caminho da natureza (o pai) e o caminho da graça (a mãe). Chastain interpretou seu personagem como personificação do "mundo espiritual", um contraste com o mundo natural, "que diz respeito à sobrevivência do mais apto".
Pode ser difícil para atores encontrarem seu lugar dentro do fluxo de uma produção de Malick. "Na realidade, ele é um imperfeccionista", disse Pitt. "Ele encontra a perfeição na imperfeição e está sempre procurando criar a imperfeição."
Para os efeitos especiais, Malick recorreu a Douglas Trumbull, conhecido principalmente por seu trabalho em "2001 -Uma Odisseia no Espaço". Eles montaram um laboratório em Austin, no Texas, onde Malick vive, e, essencialmente, realizaram experimentos de química: fotografando em altas velocidades tintas e líquidos em tanques de água, o que gerou imagens com os quais foi possível criar composites digitais de modo a assemelhar-se com fenômenos astronômicos.
O trabalho de Malick é discutido em termos filosóficos -Malick foi estudioso de Heidegger-, mas "A Árvore da Vida", exibido em Cannes no dia 16 de maio e que será lançado em outras partes da Europa e dos EUA no início de junho, aprofunda interesse declarado pela espiritualidade.
Tornando-se mais radical com a idade, Malick parece estar determinado a encontrar uma forma cinematográfica suficientemente flexível para abranger as grandes perguntas irrespondíveis da existência humana. "Agora, cada filme é quase uma frustração, pois Terry não sabe se já disse o suficiente", ponderou Fisk. "Mas acho que ele, finalmente, está fazendo filmes exatamente do jeito que quer."


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