São Paulo, segunda-feira, 30 de maio de 2011

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Neandertais podem ser mais antigos

Por NICHOLAS WADE
Avanços na datação fóssil sugerem que os neandertais, uma espécie humana musculosa e com ossos pesados adaptada à vida na Europa durante a Idade do Gelo, pereceu após ter contato com os humanos modernos, que começaram a chegar à Europa vindos do Oriente Médio em torno de 44 mil anos atrás.
Até agora, alguns ossos em sítios neandertais haviam sido datados em "apenas" 29 mil anos, sugerindo uma prolongada convivência entre as duas espécies humanas. Isso gerou a hipótese de ter havido mestiçagem, uma questão ainda não resolvida. Mas pesquisadores relatam que os testes utilizando um método melhorado de datação por radiocarbono, baseado em uma nova forma de excluir contaminantes, mostram que, talvez, todos os ossos de neandertais na Europa possam ter pelo menos 39 mil anos de idade. Thomas Higham, um especialista em datação por radiocarbono da Universidade de Oxford, e Ron Pinhasi, arqueólogo do University College de Cork, na Irlanda, dataram os ossos de um bebê neandertal encontrado em uma caverna no norte do Cáucaso. Uma segunda criança neandertal, achada em uma camada inferior da mesma caverna, havia sido anteriormente datada em 29 mil anos.
Só que a primeira ossada, tendo sido tirada de uma camada mais elevada, precisa ser mais recente e, pela técnica aperfeiçoada, tem 39 mil anos, relataram Higham e Pinhasi na revista "Proceedings", da Academia Nacional de Ciências dos EUA.
A datação por radiocarbono se baseia na mediação do isótopo radioativo carbono-14, que é ingerido durante a vida e se deteriora progressivamente após a morte. Muito pouco carbono-14 resta em espécimes com mais de 30 mil anos, e até minúsculas quantidades de carbono-14 contaminante podem fazer uma amostra parecer muito mais jovem do que é.
Higham desenvolveu um método de ultrafiltração que remove os contaminantes e preserva moléculas inteiras de colágeno recuperadas do osso fóssil. Revendo outras datações de neandertais confirmadas com o novo método, Higham acredita que nenhum sítio neandertal europeu deva ter menos de 39 mil anos.
Ele está refazendo as datações de sítios neandertais de todo o continente e, até agora, não viu evidências de uma convivência prolongada entre os neandertais e os humanos modernos.
O paleontólogo Richard Klein, da Universidade Stanford, na Califórnia, disse que o trabalho de Higham é "convincente" e se encaixa na sua visão de que "os seres humanos modernos eram tecnológica e intelectualmente muito superiores aos neandertais". Isso "teria permitido que se espalhassem rapidamente e precipitassem a extinção dos neandertais quase imediatamente após o contato".
Mas geneticistas que decodificaram o genoma do neandertal relataram, no ano passado, que cerca de 2,5% do genoma humano moderno é derivado dos neandertais. A mestiçagem, postulam eles, não ocorreu na Europa 40 mil anos atrás, mas em um encontro anterior, no Oriente Próximo, há cem mil anos.
Klein disse que o cruzamento entre as espécies era perfeitamente possível, "mas é algo antiarqueológico, pois não há evidência de que eles se sobrepuseram" no Oriente Próximo. "Eu estaria mais convencido se, na verdade, postulassem que houve um contato amplo, ainda que breve, entre neandertais e humanos modernos depois de 50 mil anos atrás."


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