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A CPI e a imprensa
Continuo a editar os balanços
que recebi da cobertura jornalística da CPI dos Correios e destes
dez meses de crise política. A imprensa cumpriu o papel que dela
se espera numa democracia? Publico hoje as avaliações de um leitor e de um cientista político.
JOSÉ CARLOS DE MORAES VASCONCELLOS
Leitor:
"As análises do papel da imprensa na crise ética deixaram de
contemplar um ponto importante: a divulgação das medidas necessárias para evitar a repetição
desse episódio. Mais que a divulgação, faltou a posição da mídia
em defesa de propostas.
O relatório final da CPMI dos
Correios é rico na demonstração
dos caminhos do "valerioduto".
Ele contém propostas legislativas
e sugestões que visam combater a
corrupção. Essa parte não mereceu o destaque que deveria por
parte da mídia, nem, é verdade,
por parte dos partidos que fazem
oposição ao governo e nem mesmo de setores éticos dos partidos
que o apóiam. Esconde-se a verdade cristalina: mais na frente
-logo ali adiante- esses episódios vão se repetir. E aí, talvez se
percam as conquistas democráticas e de modernização do Brasil!"
EDISON NUNES
pró-reitor da Universidade Cândido Mendes:
"No caso da televisão, a mostra
integral do festival televisivo e das
pajelanças no Congresso efetivamente permitiram que deputados
e senadores perdessem um pouco
da compostura, ou da liturgia
apropriada. As câmeras de TV parecem exercer uma atração maléfica sobre os políticos. A prática
da política cotidiana se transforma num espetáculo vulgar de mídia, lamentável. As jogadas teatrais se dirigem para suas "constituiencies" locais e não à causa pública.
Há outro aspecto sobre o qual a
imprensa não pode se mostrar
inocente. As "assessorias de imprensa" acabarão cortando um
dente negativo na imagem do jornalista e da imprensa. Jornalistas
importantes, com amigos e parentes nas redações, e empregos
brasilienses, cada vez mais assumem postos efetivamente governamentais e, com isso, por meio
até da prática quase clientelística
de troca de favores dentro da corporação, passam a trocar figurinhas e informações atribuídas a
"altas fontes". As assessorias acabam funcionando como alavanca
de interesses políticos. Não vale
dizer que a imprensa nada tem a
ver com isso. Tem sim. Trata-se
da lisura, prestígio e respeitabilidade da profissão de jornalista,
que foi tão combativa pelos seus
monopólios profissionais, interesses e barreiras de entrada à atividade jornalística. Se combateram tanto pela alvura do diploma
como condição para a prática, como dissociar essa alvura da promiscuidade que se estabeleceu entre jornalistas de todos os lados do
balcão?"
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