São Paulo, domingo, 23 de abril de 2006

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A CPI e a imprensa

Continuo a editar os balanços que recebi da cobertura jornalística da CPI dos Correios e destes dez meses de crise política. A imprensa cumpriu o papel que dela se espera numa democracia? Publico hoje as avaliações de um leitor e de um cientista político.

JOSÉ CARLOS DE MORAES VASCONCELLOS
Leitor:
"As análises do papel da imprensa na crise ética deixaram de contemplar um ponto importante: a divulgação das medidas necessárias para evitar a repetição desse episódio. Mais que a divulgação, faltou a posição da mídia em defesa de propostas.
O relatório final da CPMI dos Correios é rico na demonstração dos caminhos do "valerioduto". Ele contém propostas legislativas e sugestões que visam combater a corrupção. Essa parte não mereceu o destaque que deveria por parte da mídia, nem, é verdade, por parte dos partidos que fazem oposição ao governo e nem mesmo de setores éticos dos partidos que o apóiam. Esconde-se a verdade cristalina: mais na frente -logo ali adiante- esses episódios vão se repetir. E aí, talvez se percam as conquistas democráticas e de modernização do Brasil!"

EDISON NUNES
pró-reitor da Universidade Cândido Mendes:
"No caso da televisão, a mostra integral do festival televisivo e das pajelanças no Congresso efetivamente permitiram que deputados e senadores perdessem um pouco da compostura, ou da liturgia apropriada. As câmeras de TV parecem exercer uma atração maléfica sobre os políticos. A prática da política cotidiana se transforma num espetáculo vulgar de mídia, lamentável. As jogadas teatrais se dirigem para suas "constituiencies" locais e não à causa pública.
Há outro aspecto sobre o qual a imprensa não pode se mostrar inocente. As "assessorias de imprensa" acabarão cortando um dente negativo na imagem do jornalista e da imprensa. Jornalistas importantes, com amigos e parentes nas redações, e empregos brasilienses, cada vez mais assumem postos efetivamente governamentais e, com isso, por meio até da prática quase clientelística de troca de favores dentro da corporação, passam a trocar figurinhas e informações atribuídas a "altas fontes". As assessorias acabam funcionando como alavanca de interesses políticos. Não vale dizer que a imprensa nada tem a ver com isso. Tem sim. Trata-se da lisura, prestígio e respeitabilidade da profissão de jornalista, que foi tão combativa pelos seus monopólios profissionais, interesses e barreiras de entrada à atividade jornalística. Se combateram tanto pela alvura do diploma como condição para a prática, como dissociar essa alvura da promiscuidade que se estabeleceu entre jornalistas de todos os lados do balcão?"


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