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Omissão amazônica
EM SETEMBRO, quando discursou perante a Assembléia Geral da ONU, o presidente Lula alardeava a redução
do desmatamento na Amazônia
a menos da metade em seu governo. Usou para isso dados do
Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe), que monitora o
corte da floresta desde a década
de 1980. A mesma instituição
que agora critica, por anunciar
um câncer antes de fazer a biópsia, segundo suas palavras.
O presidente se referia à informação de que entre agosto e dezembro pereceram 7.000 km2 de
mata, de acordo com as imagens
de satélite analisadas pelo Inpe.
Um sinal claro de que o desmate
voltou a subir (e de maneira
acentuada em novembro e dezembro, meses mais úmidos,
quando em geral não se desmata). Como previam, de resto, todos os especialistas, diante da
rentabilidade revigorada da pecuária e da sojicultura, à qual se
soma estiagem mais prolongada.
Ainda que transferindo as metáforas do campo familiar ou esportivo para o da clínica, Lula se
equivoca. Não lhe cabe censurar
a conduta de cientistas, pois estaria obrigado a fazê-lo também
quando a divulgação dos dados
lhe agrada. Já foi o tempo em
que informações do Inpe se
prestavam a manipulação.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, ao qual se
subordina o Inpe, saiu em defesa
do órgão, dizendo que ninguém
criticava os dados enquanto o
desmate caía. Reagia não ao presidente, mas a Blairo Maggi, sojicultor e governador de Mato
Grosso (onde ocorreram 54% da
devastação), que questionou a
metodologia do instituto.
Maggi defende o ponto de vista
dos produtores, em geral insensíveis ao problema ambiental.
Ao chamá-lo de "parceiro" e inocentar o agronegócio de modo
precipitado, Lula preferiu palavras ociosas de contemporização
a novas ações para controlar o
desmatamento. Omitindo-se,
colherá dados mais alarmantes
do Inpe até o final do ano.
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