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CARLOS HEITOR CONY
O leopardo
RIO DE JANEIRO - Não é do meu
gosto nem de minha obrigação comentar intenções de quem quer
que seja, sobretudo de chefes de Estado -com exceção parcial do nosso presidente, uma vez que tudo o
que ele diz ou insinua pode se transformar numa esperança ou numa
catástrofe.
Nas entressafras do último Carnaval, entre o desfile das escolas de
samba e os bailes gays, que são coisas nossas, muito nossas, tomei conhecimento do primeiro discurso
do Obama no Congresso dos Estados Unidos. Foi aquilo que se pode
chamar de "sucesso de público".
Aplaudido de pé por democratas e
republicanos com seus anexos e
respectivos quintais.
Passado o entusiasmo inicial despertado pela sua oratória de bacharelando em dia de formatura, a imprensa descobriu a obviedade de todas as propostas ameaçadas pelo jovem presidente, na base do "não devemos pisar na grama nem cuspir
no chão". Não pingou uma única
ideia original de governo, limitando-se a dizer que vai fazer isso e
aquilo, chegando ao exagero de prometer uma solução para a crise econômica na base de "medidas graduais e seguras".
Faltou acrescentar o "lentas". Teríamos assim uma repetição de certo general sul-americano que prometeu uma abertura do regime militar de forma lenta, gradual e segura. Apesar das boas intenções reveladas pelo novo presidente, as Bolsas despencaram e os editoriais da
imprensa reclamaram da falta de
precisão e objetividade das propostas apresentadas.
Bem, poderão argumentar os admiradores de Obama, foi o discurso
de um bom candidato, e não o de
um executivo atolado em problemas. Expressou a boa vontade que
dele se espera, dando razão àquela
máxima expressa pelo autor de "O
Leopardo": é necessário mudar de
vez em quando para que tudo continue como sempre.
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