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São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2003

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POLÍCIA "DURÍSSIMA"

A afirmação do governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, de que quer uma polícia "duríssima", será entendida por alguns como "de ação implacável dentro dos limites da lei". Outros, contudo, aí incluídos os maus policiais, poderão interpretar a ordem como uma licença para matar.
Essa é uma das explicações possíveis para os mais recentes dados sobre o número de pessoas mortas por policiais no Estado. No primeiro trimestre de 2003, registrou-se um crescimento de 21% em relação ao mesmo período do ano anterior. E essa é, infelizmente, uma tendência já antiga. Em 2002, o número de civis mortos por policiais no Estado de São Paulo já havia crescido 32% em relação ao ano anterior e foi recorde desde 1996, quando a pesquisa, que é feita pela Ouvidoria das Polícias, começou a ser realizada.
A maioria das mortes provocadas pela polícia é catalogada sob a rubrica "resistência seguida de morte", o que caracterizaria legítima defesa. O aumento dos óbitos seria, segundo o comando da polícia, o resultado da crescente ousadia e periculosidade dos bandidos. O problema dessa tese é que o número de policiais mortos permanece mais ou menos estável ao longo dos anos, enquanto o de civis vem crescendo. É forçoso, portanto, reconhecer que a polícia paulista está se tornando mais violenta.
E isso quando os números paulistas já são chocantes. Em 2002, o total bruto de óbitos por policiais foi de 825. Apenas para ilustrar, registre-se que, nos EUA, em 2000, houve 297 mortes de civis por policiais. A população norte-americana é quase sete vezes maior do que a de São Paulo.
A polícia precisa ser capaz de agir com vigor, mas não pode agir fora dos limites legais. Talvez o governo esteja sendo ineficiente ao passar essa segunda parte da mensagem para os seus comandados.


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