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CLÓVIS ROSSI
A rendição e os amigos
SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece em pleno
"Jornal Nacional" para festejar a
queda do risco-país.
Parabéns, presidente.
Pena que haja outras notícias que
não permitem festejos nem seus nem,
principalmente, do distinto público.
Por exemplo, o novo recorde de juros
cobrados pelos bancos ou o aumento
do desemprego.
O presidente Lula aparece também,
agora nos jornais, espinafrando deseducadamente velhos companheiros,
como o deputado Babá. Diz que os
mal chamados "radicais" esqueceram-se de defender os pobres e estão
defendendo "marajás".
É uma falsa contraposição, presidente. É perfeitamente possível ser
contra a contribuição dos inativos e
contra aposentadorias abusivas. Até
o ano passado, o senhor mesmo era
contra ambas, lembra-se?
O seu novo discurso é rigorosamente o discurso do governo anterior e o
discurso tradicional da direita brasileira. Nada contra ser de direita (ou
de esquerda, ou de centro, tem gosto
para tudo).
Mas só queria lembrar, presidente,
que os de esquerda, como Babá, a senadora Heloísa Helena, lhe ofereceram o ombro amigo nas horas amargas. Já a direita, só lhe aplaude porque o senhor se revela submisso e rendido às idéias e projetos dela.
Queria lembrar também, se o senhor me permite, que a direita é como piranha: sentiu o gostinho do
sangue que o senhor já lhe ofereceu e
já vem querendo mais.
Vide a declaração do diretor-gerente do FMI cobrando a adesão do Brasil à Alca nos termos ("anexatórios"?)
postos pelos EUA.
O senhor tem o direito de render-se
também na Alca. Mas não se esqueça
da sorte corrida pelos nefandos personagens que o FMI e a direita já incensaram (Collor, Menem, Fujimori). Se e quando seus supostos neo-amigos lhe virarem as costas, os velhos companheiros já não estarão lá
para ampará-lo.
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