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ELIANE CANTANHÊDE
O berimbau do doutor
BRASÍLIA - Mesmo com o "investment grade" do Brasil, o
"boom" de ontem das Bolsas e o Dia
do Trabalho hoje, não dá para deixar passar em branco a declaração
do Dr. Antônio Dantas, coordenador do curso de medicina da Universidade Federal da Bahia, ontem
na Folha, sobre o baixo desempenho da sua instituição no Enade.
"O baiano toca berimbau porque
só tem uma corda. Se tivesse mais,
não conseguiria", disse, atribuindo
o vexame ao que seria doença hereditária: o "baixo QI dos baianos".
Não se sabe o que é pior: o MEC
ter de punir 17 (17!) cursos de medicina por serem uma porcaria, incluindo aí os de quatro universidades federais, ou ter de agüentar o
coordenador do curso de uma delas
falando uma barbaridade dessas.
Com um coordenador assim, e
com professores desse calibre, o
que você poderia esperar dos cursos e dos alunos?! Aliás, pobres alunos! Pior: pobres pacientes!
Já era grave o MEC ter de intervir diretamente para socorrer alunos de pedagogia e direito que ficaram abaixo da crítica pelo país afora. E ficou insuportável saber que
na medicina não é muito melhor.
Tudo é uma questão de vida ou
morte. Maus advogados podem virar uma praga e pedagogos ignorantes podem ser fatais na vida de
seus estudantes, mas um mau médico carrega um risco de morte
bem mais iminente. Um diagnóstico errado, uma operação malfeita,
um remédio inadequado podem
decidir o destino de uma pessoa. E,
assim, de famílias inteiras.
Parabéns ao Brasil pelo "investment grade", que vai atrair milhões
de dólares produtivos, e parabéns
aos trabalhadores pelo seu dia.
Meus pêsames às faculdades que
convivem com os "doutores dantas", seus preconceitos, sua ignorância, suas brincadeiras absurdas
(ou será que não foi brincadeira?).
O problema não é o berimbau dos
alunos; é a falta de berimbau de
certos professores.
PS - Sim, ele é baiano.
elianec@uol.com.br
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