São Paulo, sábado, 01 de junho de 2002

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DROGA MAQUIADA

Um dos fatores que historicamente mais contribuíram para o aumento da expectativa e da qualidade de vida da humanidade foi a introdução de medicamentos que realmente funcionam. Essa revolução, que se iniciou no final do século 19, teve seu instante mais emblemático com a introdução dos primeiros antibióticos nos anos 40 e seu apogeu na segunda metade do século 20. Hoje, a indústria de medicamentos é uma das mais dinâmicas do planeta.
Relatório divulgado nesta semana nos EUA revela que os laboratórios estão especialmente ativos na área de marketing. O estudo, realizado pela Fundação Instituto Nacional de Administração de Saúde, que é ligada a companhias de seguro, mostra que dois terços das drogas aprovadas entre 1989 e 2000 são versões modificadas (às vezes até idênticas) de drogas que já existiam.
O estudo, que utilizou dados da FDA, a poderosa agência reguladora de medicamentos dos EUA, mostra que, dos 1.035 fármacos aprovados no período, apenas 361 (35%) continham princípios ativos novos.
Os demais eram produtos novos, mas que utilizavam ingredientes já disponíveis no mercado. Normalmente, quando uma droga campeã de vendas está com sua patente prestes a vencer, o laboratório lança um produto similar e investe pesadamente no marketing da nova marca, procurando levar os usuários da droga "velha" para a "nova". Os "novos" preços tendem a ser mais altos.
Não há nada de ilegal nessa estratégia. Às vezes, pequenas alterações na fórmula ou no excipiente melhoram bastante um produto. O problema é que, em certos casos, o consumidor pode estar gastando bem mais para tomar a mesma coisa.
Talvez não seja mesmo possível desenvolver cem novas drogas úteis por ano, número que corresponderia "grosso modo" ao total de fármacos aprovados. No passado, o termo "novos medicamentos" já foi sinônimo de "cura" ou, pelo menos, "esperança". Há o risco de hoje estar se tornando sinônimo de "desperdício" ou "me-engana-que-eu-gosto".



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