|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DROGA MAQUIADA
Um dos fatores que historicamente mais contribuíram para
o aumento da expectativa e da qualidade de vida da humanidade foi a introdução de medicamentos que realmente funcionam. Essa revolução,
que se iniciou no final do século 19,
teve seu instante mais emblemático
com a introdução dos primeiros antibióticos nos anos 40 e seu apogeu
na segunda metade do século 20.
Hoje, a indústria de medicamentos é
uma das mais dinâmicas do planeta.
Relatório divulgado nesta semana
nos EUA revela que os laboratórios
estão especialmente ativos na área de
marketing. O estudo, realizado pela
Fundação Instituto Nacional de Administração de Saúde, que é ligada a
companhias de seguro, mostra que
dois terços das drogas aprovadas entre 1989 e 2000 são versões modificadas (às vezes até idênticas) de drogas
que já existiam.
O estudo, que utilizou dados da
FDA, a poderosa agência reguladora
de medicamentos dos EUA, mostra
que, dos 1.035 fármacos aprovados
no período, apenas 361 (35%) continham princípios ativos novos.
Os demais eram produtos novos,
mas que utilizavam ingredientes já
disponíveis no mercado. Normalmente, quando uma droga campeã
de vendas está com sua patente prestes a vencer, o laboratório lança um
produto similar e investe pesadamente no marketing da nova marca,
procurando levar os usuários da droga "velha" para a "nova". Os "novos"
preços tendem a ser mais altos.
Não há nada de ilegal nessa estratégia. Às vezes, pequenas alterações na
fórmula ou no excipiente melhoram
bastante um produto. O problema é
que, em certos casos, o consumidor
pode estar gastando bem mais para
tomar a mesma coisa.
Talvez não seja mesmo possível desenvolver cem novas drogas úteis por
ano, número que corresponderia
"grosso modo" ao total de fármacos
aprovados. No passado, o termo
"novos medicamentos" já foi sinônimo de "cura" ou, pelo menos, "esperança". Há o risco de hoje estar se
tornando sinônimo de "desperdício"
ou "me-engana-que-eu-gosto".
Texto Anterior: Editoriais: FBI, URGENTE Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Quem é subversivo? Índice
|