São Paulo, sábado, 01 de junho de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Quem é subversivo?

SÃO PAULO - A Argentina deu mais um firme passo, anteontem, na direção da volta à condição de colônia. Refiro-me à revogação pelo Senado da Lei de Subversão Econômica, conforme ordens baixadas pelo Fundo Monetário Internacional.
O alarido em torno da lei pode dar a impressão de que ela foi inventada recentemente, no meio do tumulto criado pela falência do modelo de câmbio fixo. Mas não. Ela foi originalmente introduzida em 1974, no último dos três governos do general Juan Domingo Perón (que morreu nesse mesmo ano, ainda presidente).
Tempos, é bom lembrar, em que a Argentina crescia e criava empregos em quantidade suficiente não apenas para atender aos argentinos mas para atrair paraguaios, bolivianos, uruguaios, enfim, os habitantes de países mais pobres que a Argentina.
Conforme Janaína Figueiredo, a correspondente de "O Globo" em Buenos Aires, o artigo que mais preocupava o governo e irritava os organismos internacionais de crédito era o que previa "prisão de até seis anos e multa de 75 mil a 5 milhões de pesos para aquele que, com ânimo de lucro, ou maliciosamente, com risco para o normal desenvolvimento de um estabelecimento comercial, industrial, agropecuário, mineiro ou destinado à prestação de serviços, afetar indevidamente, destruir o valor de matérias-primas, produtos de qualquer natureza, máquinas ou equipamentos e comprometer sem justificativa seu patrimônio".
Honestamente, caro leitor, o que há de tão ruim nessa regra? O máximo que se pode dizer é que impede um capitalismo predatório, se houver um governo e um sistema judicial dispostos a aplicá-la, o que não aconteceu na Argentina -e menos ainda aconteceria agora, em que pura e simplesmente não há governo.
O fato é que a "modernidade", tal como defendida pelos ideólogos do chamado pensamento único, devolveu a Argentina ao mais remoto passado, o passado de colônia.
Convém também não esquecer que o pensamento único não colonizou apenas a Argentina.



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