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CLÓVIS ROSSI
Quem é subversivo?
SÃO PAULO - A Argentina deu mais
um firme passo, anteontem, na direção da volta à condição de colônia.
Refiro-me à revogação pelo Senado
da Lei de Subversão Econômica, conforme ordens baixadas pelo Fundo
Monetário Internacional.
O alarido em torno da lei pode dar
a impressão de que ela foi inventada
recentemente, no meio do tumulto
criado pela falência do modelo de
câmbio fixo. Mas não. Ela foi originalmente introduzida em 1974, no
último dos três governos do general
Juan Domingo Perón (que morreu
nesse mesmo ano, ainda presidente).
Tempos, é bom lembrar, em que a
Argentina crescia e criava empregos
em quantidade suficiente não apenas
para atender aos argentinos mas para atrair paraguaios, bolivianos, uruguaios, enfim, os habitantes de países
mais pobres que a Argentina.
Conforme Janaína Figueiredo, a
correspondente de "O Globo" em
Buenos Aires, o artigo que mais preocupava o governo e irritava os organismos internacionais de crédito era
o que previa "prisão de até seis anos e
multa de 75 mil a 5 milhões de pesos
para aquele que, com ânimo de lucro,
ou maliciosamente, com risco para o
normal desenvolvimento de um estabelecimento comercial, industrial,
agropecuário, mineiro ou destinado
à prestação de serviços, afetar indevidamente, destruir o valor de matérias-primas, produtos de qualquer
natureza, máquinas ou equipamentos e comprometer sem justificativa
seu patrimônio".
Honestamente, caro leitor, o que há
de tão ruim nessa regra? O máximo
que se pode dizer é que impede um
capitalismo predatório, se houver um
governo e um sistema judicial dispostos a aplicá-la, o que não aconteceu
na Argentina -e menos ainda aconteceria agora, em que pura e simplesmente não há governo.
O fato é que a "modernidade", tal
como defendida pelos ideólogos do
chamado pensamento único, devolveu a Argentina ao mais remoto passado, o passado de colônia.
Convém também não esquecer que
o pensamento único não colonizou
apenas a Argentina.
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