São Paulo, segunda-feira, 01 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Tapetão

SÃO PAULO - "Olha, fulano pode fazer a demagogia que quiser durante a campanha. Afinal, sem demagogia ninguém ganha eleição. Mas diga a ele que, se por acaso vencer, é para abandonar essas idéias malucas e vir aqui para conversar conosco. Caso contrário, nós o derrubamos."
O recado, mais ou menos nos termos reproduzidos acima, foi dado recentemente por um banqueiro local graúdo a um assessor de confiança de um dos três presidenciáveis da oposição. As identidades dos personagens dessa conversa serão preservadas.
O que interessa, no caso, é o teor do aviso, que faz eco à profecia de George Soros sobre a ilusão da democracia no país. Perto das ameaças que o Tio Patinhas da banca nacional faz a portas fechadas e o Poderoso Chefão da finança internacional se dá o direito de fazer em público, pelos jornais, a bravata de Mário Amato na campanha de 89 soa como uma peça inofensiva de Walt Disney.
Lula mencionou, em sua "Carta ao Povo Brasileiro", o aspecto "totalitário" do discurso de um governo que em oito anos não cansou de propagandear a inexorabilidade de sua política econômica. Acossado, no entanto, o próprio PT se rendeu à ditadura dos mercados. Depois de vender a alma ao demônio -dê-se a ele o nome que quiser-, só falta a Lula pedir desculpas por ser candidato.
Nunca, como hoje, o destino do país foi tão abertamente subordinado aos humores da ciranda global. Mas o estrangulamento da democracia entre nós não se dá apenas pelo inédito constrangimento econômico. A grampolândia instalada na PF e a conduta até aqui, digamos, heterodoxa do TSE turvam o jogo da sucessão de forma cada vez mais alarmante.
Conquistado o penta, a campanha presidencial entra agora na sua etapa decisiva. O saldo da primeira fase, porém, não é nada bom. Cartolas mal-intencionados, juízes suspeitos, gols roubados e campeões de véspera estão aí para estragar a festa.


Texto Anterior: Editoriais: PRATO REQUENTADO
Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Agora, a política
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.