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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Tapetão
SÃO PAULO - "Olha, fulano pode fazer a demagogia que quiser durante
a campanha. Afinal, sem demagogia
ninguém ganha eleição. Mas diga a
ele que, se por acaso vencer, é para
abandonar essas idéias malucas e vir
aqui para conversar conosco. Caso
contrário, nós o derrubamos."
O recado, mais ou menos nos termos reproduzidos acima, foi dado recentemente por um banqueiro local
graúdo a um assessor de confiança de
um dos três presidenciáveis da oposição. As identidades dos personagens
dessa conversa serão preservadas.
O que interessa, no caso, é o teor do
aviso, que faz eco à profecia de George Soros sobre a ilusão da democracia no país. Perto das ameaças que o
Tio Patinhas da banca nacional faz a
portas fechadas e o Poderoso Chefão
da finança internacional se dá o direito de fazer em público, pelos jornais, a bravata de Mário Amato na
campanha de 89 soa como uma peça
inofensiva de Walt Disney.
Lula mencionou, em sua "Carta ao
Povo Brasileiro", o aspecto "totalitário" do discurso de um governo que
em oito anos não cansou de propagandear a inexorabilidade de sua política econômica. Acossado, no entanto, o próprio PT se rendeu à ditadura dos mercados. Depois de vender
a alma ao demônio -dê-se a ele o
nome que quiser-, só falta a Lula
pedir desculpas por ser candidato.
Nunca, como hoje, o destino do país
foi tão abertamente subordinado aos
humores da ciranda global. Mas o estrangulamento da democracia entre
nós não se dá apenas pelo inédito
constrangimento econômico. A
grampolândia instalada na PF e a
conduta até aqui, digamos, heterodoxa do TSE turvam o jogo da sucessão
de forma cada vez mais alarmante.
Conquistado o penta, a campanha
presidencial entra agora na sua etapa decisiva. O saldo da primeira fase,
porém, não é nada bom. Cartolas
mal-intencionados, juízes suspeitos,
gols roubados e campeões de véspera
estão aí para estragar a festa.
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