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CARLOS HEITOR CONY
A feijoada e o parati
RIO DE JANEIRO - No final da crônica de ontem, escrita na antevéspera
da final Brasil x Alemanha, cometi
uma frase de efeito que quase ia suprimindo em nome do bom gosto literário. Dizia eu que vencer é ótimo,
mas ser sempre capaz de vencer é
mais significativo.
Sem poder adivinhar o resultado
da partida, comentei a insistência
com que o Brasil chega às finais das
Copas do Mundo, e essa regularidade, essa força da "camisa" é um sinal
positivo, talvez o mais visível, de nossas possibilidades dentro e fora do esporte.
Não demos certo até agora em termos de projeto nacional. Patinamos
entre idas e vindas, em subidas e descidas, típicas dos países em desenvolvimento e que enfrentam os problemas de uma globalização desvantajosa para quem não está no primeiro
time.
Mas temos uma teimosia genética
que supera aquela preguiça macunaímica, mais anedótica do que real.
Essa teimosia, pouco a pouco vai se
incorporando à persona do brasileiro, é um pouco mal-informada, mas
constitui uma fonte de energia que
nos torna capazes de, esparsamente,
fazermos coisas maravilhosas, nem
sempre necessárias, mas lúdicas: como Brasília, algumas manifestações
no campo da música e do cinema e,
no topo de tudo, no futebol.
Não se trata de ufanismo estéril e
cabotino. Temos tantos problemas,
tantos estrangulamentos em nossa
caminhada histórica que seria ridículo cantar vitória, mesmo quando
merecemos cantá-la, como agora.
Mas a conquista do pentacampeonato no Japão, de forma límpida e insofismável, num jogo com um adversário respeitável e numa partida sem
violências nem incidentes, mostra
mais uma vez a nossa vocação a um
destino nacional que será construído
pelo nosso povo, apesar do governo,
das instituições e das elites ressentidas porque não falamos inglês, não
usamos o dólar e, como naquela
marchinha do Lamartine Babo, preferimos a feijoada e o parati.
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