São Paulo, segunda-feira, 01 de julho de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

A feijoada e o parati

RIO DE JANEIRO - No final da crônica de ontem, escrita na antevéspera da final Brasil x Alemanha, cometi uma frase de efeito que quase ia suprimindo em nome do bom gosto literário. Dizia eu que vencer é ótimo, mas ser sempre capaz de vencer é mais significativo.
Sem poder adivinhar o resultado da partida, comentei a insistência com que o Brasil chega às finais das Copas do Mundo, e essa regularidade, essa força da "camisa" é um sinal positivo, talvez o mais visível, de nossas possibilidades dentro e fora do esporte.
Não demos certo até agora em termos de projeto nacional. Patinamos entre idas e vindas, em subidas e descidas, típicas dos países em desenvolvimento e que enfrentam os problemas de uma globalização desvantajosa para quem não está no primeiro time.
Mas temos uma teimosia genética que supera aquela preguiça macunaímica, mais anedótica do que real. Essa teimosia, pouco a pouco vai se incorporando à persona do brasileiro, é um pouco mal-informada, mas constitui uma fonte de energia que nos torna capazes de, esparsamente, fazermos coisas maravilhosas, nem sempre necessárias, mas lúdicas: como Brasília, algumas manifestações no campo da música e do cinema e, no topo de tudo, no futebol.
Não se trata de ufanismo estéril e cabotino. Temos tantos problemas, tantos estrangulamentos em nossa caminhada histórica que seria ridículo cantar vitória, mesmo quando merecemos cantá-la, como agora.
Mas a conquista do pentacampeonato no Japão, de forma límpida e insofismável, num jogo com um adversário respeitável e numa partida sem violências nem incidentes, mostra mais uma vez a nossa vocação a um destino nacional que será construído pelo nosso povo, apesar do governo, das instituições e das elites ressentidas porque não falamos inglês, não usamos o dólar e, como naquela marchinha do Lamartine Babo, preferimos a feijoada e o parati.


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