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ELIANE CANTANHÊDE
Meia carapuça
BRASÍLIA - Quando o papo é com "formadores de opinião", como chefes jornalistas, professores, doutores,
isso e aquilo, muitas vezes o governo
Lula é visto como uma repetição de
FHC na área econômica e quase um
zero à esquerda na área social.
Quando chegam as pesquisas, como a do Datafolha publicada no último domingo, as coisas são bem diferentes. Após seis meses de governo,
42% das pessoas aprovam Lula, como 40% aprovavam FHC.
Queiram ou não os que, como eu,
acham tudo muito devagar e estão
cheios de dúvidas, o fato é que a
maioria continua cheia é de esperança e de boa vontade, mesmo ao ver
Lula e suas gafes e ao analisar o seu
governo, com juros na estratosfera,
desemprego horripilante e reformas
até para garfar o bolso do inativo.
Para essa maioria, o discurso da
"herança maldita", feito por Lula e
principalmente por José Dirceu, cola
e muito. Além disso, o eleitor comum
continua fascinado pelo carisma de
Lula e sente orgulho de ver alguém
tão próximo a ele representar o Brasil
no exterior com tamanha desenvoltura e ser até aplaudido.
Quando o presidente comete o ato
falho de desdenhar do Congresso e do
Judiciário, nós, os tais "formadores
de opinião", ficamos de cabelo em pé,
apreensivos. Mas o seu João da padaria, a dona Maria da farmácia e o fulano da favela acham, no íntimo, que
é isso mesmo, esses deputados e esses
juízes são uns nababos que não estão
com nada. Lula está é "dizendo umas
verdades".
Para resumir tudo, fala Mauro
Paulino, diretor-geral do Datafolha:
"Os formadores de opinião formam
suas próprias opiniões tomando
Johnny Walker e se esquecem de, de
vez em quando, beber uma 51 no boteco da esquina. Daí eles nem conseguem saber a opinião de quem importa e muito menos formá-la".
Pois é. Só que isso vai mudando
com o tempo, a prática de governo e a
quebra de expectativas. Um dia, o
Johnny Walker pode muito bem se
encontrar com a 51. Como, aliás, na
própria eleição do Lula, certo?
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