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São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Meia carapuça

BRASÍLIA - Quando o papo é com "formadores de opinião", como chefes jornalistas, professores, doutores, isso e aquilo, muitas vezes o governo Lula é visto como uma repetição de FHC na área econômica e quase um zero à esquerda na área social.
Quando chegam as pesquisas, como a do Datafolha publicada no último domingo, as coisas são bem diferentes. Após seis meses de governo, 42% das pessoas aprovam Lula, como 40% aprovavam FHC.
Queiram ou não os que, como eu, acham tudo muito devagar e estão cheios de dúvidas, o fato é que a maioria continua cheia é de esperança e de boa vontade, mesmo ao ver Lula e suas gafes e ao analisar o seu governo, com juros na estratosfera, desemprego horripilante e reformas até para garfar o bolso do inativo.
Para essa maioria, o discurso da "herança maldita", feito por Lula e principalmente por José Dirceu, cola e muito. Além disso, o eleitor comum continua fascinado pelo carisma de Lula e sente orgulho de ver alguém tão próximo a ele representar o Brasil no exterior com tamanha desenvoltura e ser até aplaudido.
Quando o presidente comete o ato falho de desdenhar do Congresso e do Judiciário, nós, os tais "formadores de opinião", ficamos de cabelo em pé, apreensivos. Mas o seu João da padaria, a dona Maria da farmácia e o fulano da favela acham, no íntimo, que é isso mesmo, esses deputados e esses juízes são uns nababos que não estão com nada. Lula está é "dizendo umas verdades".
Para resumir tudo, fala Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha: "Os formadores de opinião formam suas próprias opiniões tomando Johnny Walker e se esquecem de, de vez em quando, beber uma 51 no boteco da esquina. Daí eles nem conseguem saber a opinião de quem importa e muito menos formá-la".
Pois é. Só que isso vai mudando com o tempo, a prática de governo e a quebra de expectativas. Um dia, o Johnny Walker pode muito bem se encontrar com a 51. Como, aliás, na própria eleição do Lula, certo?


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