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CARLOS HEITOR CONY
Sangrando e fedendo
RIO DE JANEIRO - Não foi a imprensa que diagnosticou tão radicalmente a crise atravessada pelo
Senado. Foram alguns de seus
membros, que estão sofrendo o
constrangimento de serem senadores num momento em que dois deles estão sendo acusados não apenas de falta de decoro mas de improbidade.
Sempre é reconfortante ouvir as
vozes de Pedro Simon, de Jefferson
Peres e, agora, a de Jarbas Vasconcelos, que traz de volta aqueles tempos do antigo MDB, que enfrentou
a ditadura durante 21 anos.
Espantosa a insensibilidade de
Renan Calheiros diante da crise que
ele criou não apenas para o Senado
mas para a vida pública nacional. Se
é inocente, se tem confiança em sua
honestidade pessoal, o caminho
que deveria tomar era o licenciamento do cargo que ocupa na mesa
diretora da Casa. Ao contrário do
que ele alega, seu afastamento, ainda que provisório, da cadeira presidencial não seria a admissão de culpa, mas a isenção que se espera do
chefe de um colegiado legislativo.
O "jus esperneandi" que ele está
exercendo não apenas prolonga a
crise mas a corrompe por dentro, a
ponto de se vangloriar da absolvição pelo plenário em caso de votação secreta sobre a cassação de seu
mandato.
São expressões fortes as que estão sendo usadas por senadores
respeitados pela opinião pública e
que chegaram à mídia: o Senado está sangrando, o Senado está fedendo. Até quando?
Pouco a pouco, com o olho voltado para seu interesse na estabilidade de sua base no Congresso, Lula
está entrando na crise pelo lado
inoportuno. E, mais do que inoportuno, pelo lado errado. Três anos e
meio de mandato lhe dão força para
cabalar apoios que serão cobrados
na devida hora. É por aí que Renan
acredita que sairá impune da prevaricação cometida.
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