São Paulo, sexta-feira, 01 de setembro de 2000

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CLÓVIS ROSSI

O império e o Sul

SÃO PAULO - A diplomacia brasileira pode tomar todos os cuidados semânticos que quiser, mas não vai conseguir ocultar que a reunião de presidentes sul-americanos, em andamento em Brasília, destina-se, sim, a criar um bloco sul-americano para negociar em melhores condições com o Norte (Estados Unidos e União Européia).
Se dúvida pudesse haver, o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso a dissolveu ontem, em discurso para o Ceal (Comitê Empresarial da América Latina).
FHC manifestou a intenção do Mercosul de atrair para o bloco os países andinos e, em seguida, construir "um espaço econômico sul-americano que inclua Chile, Guiana e Suriname".
Por fim, acrescentou: "Sabemos que essa meta é a razão de ser do encontro de chefes de Estado que ora se realiza em Brasília".
É previsível que a baixa auto-estima do brasileiro minimize, despreze ou ironize a reunião de Brasília e, também, o tal "espaço econômico sul-americano".
Ora, a América do Sul tem uma economia de US$ 1,5 trilhão, o que não é desprezível em parte alguma, e abriga 337 milhões de habitantes (ou consumidores, ao menos em potencial, como manda dizer a visão mercadológica hoje predominante).
É esse o patrimônio que a diplomacia brasileira pretende aglutinar para negociar em melhores condições com os Estados Unidos em torno da criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Pode não ser muito, mas é o máximo que um país como o Brasil está em condições de fazer. Portanto, é louvável que o faça.
Até porque conta com a torcida aberta da União Européia, que saudou a cúpula de Brasília, porque "contribui para a construção de um mundo multipolar".
Tomara que seja assim porque o mundo unipolar, sob a égide do império (os EUA), não é bom para a saúde de ninguém.


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