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CLÓVIS ROSSI
O império e o Sul
SÃO PAULO - A diplomacia brasileira pode tomar todos os cuidados semânticos que quiser, mas não vai
conseguir ocultar que a reunião de
presidentes sul-americanos, em andamento em Brasília, destina-se, sim,
a criar um bloco sul-americano para
negociar em melhores condições com
o Norte (Estados Unidos e União Européia).
Se dúvida pudesse haver, o próprio
presidente Fernando Henrique Cardoso a dissolveu ontem, em discurso
para o Ceal (Comitê Empresarial da
América Latina).
FHC manifestou a intenção do
Mercosul de atrair para o bloco os
países andinos e, em seguida, construir "um espaço econômico sul-americano que inclua Chile, Guiana
e Suriname".
Por fim, acrescentou: "Sabemos que
essa meta é a razão de ser do encontro de chefes de Estado que ora se realiza em Brasília".
É previsível que a baixa auto-estima do brasileiro minimize, despreze
ou ironize a reunião de Brasília e,
também, o tal "espaço econômico
sul-americano".
Ora, a América do Sul tem uma
economia de US$ 1,5 trilhão, o que
não é desprezível em parte alguma, e
abriga 337 milhões de habitantes (ou
consumidores, ao menos em potencial, como manda dizer a visão mercadológica hoje predominante).
É esse o patrimônio que a diplomacia brasileira pretende aglutinar para negociar em melhores condições
com os Estados Unidos em torno da
criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Pode não ser muito, mas é o máximo que um país como o Brasil está
em condições de fazer. Portanto, é
louvável que o faça.
Até porque conta com a torcida
aberta da União Européia, que saudou a cúpula de Brasília, porque
"contribui para a construção de um
mundo multipolar".
Tomara que seja assim porque o
mundo unipolar, sob a égide do império (os EUA), não é bom para a
saúde de ninguém.
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