São Paulo, sexta-feira, 01 de setembro de 2000

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ELIANE CANTANHÊDE

O velho Tio Sam

BRASÍLIA - A diplomacia não dá ponto sem nó: nenhuma palavra, nenhum gesto, nenhum sorriso, nenhuma cara feia, nada é por acaso. Especialmente a brasileira, que nunca é direta, prefere símbolos.
Agora, palavras, gestos e cara fechada foram de véspera e dirigidos à Colômbia, mas para acertar os Estados Unidos.
O chanceler Lampreia reuniu o general Alberto Cardoso, o ministro da Defesa e o diretor da Polícia Federal -a cúpula de segurança nacional- e depois alertou: o Brasil não gosta nem um pouco das ações norte-americanas na Colômbia.
Acha que podem respingar nas fronteiras brasileiras desde guerrilheiros e narcotraficantes a agentes químicos usados para queimar folhas de coca. Se der um ventinho, queimam a floresta amazônica.
Conversa vai, conversa vem, FHC acertou o tom com o presidente Hugo Chávez (Venezuela), que não é nada diplomático, chegou antes dos demais e foi direto ao ponto: os EUA botarem o pé na Colômbia -e de quebra na Guiana- pode significar uma "vietnamização" na região. Disse a la Chávez o que Lampreia diz a la Lampreia.
Soberbo, e com todas as razões para isso, Bill Clinton foi ao homem certo no momento certo. Desembarcou em Bogotá no dia 30, véspera da reunião dos presidentes em Brasília, e fechou tudo com o presidente da Colômbia, Andrés Pastrana.
A pauta formal da reunião de ontem e hoje em Brasília é diplomática: democracia, integração física, livre comércio, essas coisas. Mas o que interessa mesmo é a presença militar dos EUA na Colômbia e as crises políticas por toda parte. Só que, se Pastrana não quiser, nada se fala nem se faz em nome da "não-ingerência".
Há nuances quanto ao tom de alerta, mas no geral não resta dúvida: os países sul-americanos acabam de descobrir que o fantasma dos EUA ronda o (sub)continente. Ah, é?


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