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ELIANE CANTANHÊDE
O velho Tio Sam
BRASÍLIA - A diplomacia não dá ponto sem nó: nenhuma palavra, nenhum gesto, nenhum sorriso, nenhuma cara feia, nada é por acaso. Especialmente a brasileira, que nunca é
direta, prefere símbolos.
Agora, palavras, gestos e cara fechada foram de véspera e dirigidos à
Colômbia, mas para acertar os Estados Unidos.
O chanceler Lampreia reuniu o general Alberto Cardoso, o ministro da
Defesa e o diretor da Polícia Federal
-a cúpula de segurança nacional-
e depois alertou: o Brasil não gosta
nem um pouco das ações norte-americanas na Colômbia.
Acha que podem respingar nas
fronteiras brasileiras desde guerrilheiros e narcotraficantes a agentes
químicos usados para queimar folhas
de coca. Se der um ventinho, queimam a floresta amazônica.
Conversa vai, conversa vem, FHC
acertou o tom com o presidente Hugo
Chávez (Venezuela), que não é nada
diplomático, chegou antes dos demais e foi direto ao ponto: os EUA botarem o pé na Colômbia -e de quebra na Guiana- pode significar
uma "vietnamização" na região. Disse a la Chávez o que Lampreia diz a
la Lampreia.
Soberbo, e com todas as razões para
isso, Bill Clinton foi ao homem certo
no momento certo. Desembarcou em
Bogotá no dia 30, véspera da reunião
dos presidentes em Brasília, e fechou
tudo com o presidente da Colômbia,
Andrés Pastrana.
A pauta formal da reunião de ontem e hoje em Brasília é diplomática:
democracia, integração física, livre
comércio, essas coisas. Mas o que interessa mesmo é a presença militar
dos EUA na Colômbia e as crises políticas por toda parte. Só que, se Pastrana não quiser, nada se fala nem se
faz em nome da "não-ingerência".
Há nuances quanto ao tom de alerta, mas no geral não resta dúvida: os
países sul-americanos acabam de
descobrir que o fantasma dos EUA
ronda o (sub)continente. Ah, é?
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