|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GABRIELA WOLTHERS
O alvo errado
RIO DE JANEIRO - Com a proximidade das eleições municipais e a constatação de que os atuais prefeitos lideram as pesquisas de intenção de voto
em várias capitais, crescem as críticas
à possibilidade de reeleição. O argumento principal é que a disputa torna-se desleal, pois os prefeitos têm a
máquina pública trabalhando a seu
favor. Há uso da máquina? Sim. E,
por isso, deve-se acabar com a reeleição? Não.
Qualquer um, mesmo os que
odeiam política (aliás, principalmente estes!), sabe que o uso da máquina
não é uma novidade que teve início
com a possibilidade de reeleição.
O político que usa a máquina pública seguirá essa cartilha para eleger
a si próprio, seu afilhado ou o poste
da esquina. O problema não é do instituto da reeleição, mas do caráter do
político, da Justiça -que não age
com rigor suficiente- e do Congresso, que anistia as poucas multas que
a Justiça aplica. Isso sem falar no eleitor que vota nesse tipo de político. Ou
seja, culpados não faltam.
Há quem diga que o uso da máquina já existia, de fato, mas sua utilização foi exacerbada agora. Quem diz
isso não deve se lembrar do "empenho" de Orestes Quércia em eleger
Luiz Antonio Fleury Filho ou de Paulo Maluf em relação a Celso Pitta.
Quércia e Maluf, aliás, gastaram sem
limites para eleger suas "criaturas",
endividando às alturas o poder público. Será que fariam o mesmo se
soubessem que eles é que teriam depois que governar uma massa falida?
ACM não exerce cargo executivo
desde 1994, mas alguém duvida que o
governador Cesar Borges e o prefeito
Antonio Imbassahy lhes devam suas
eleições? Se não existisse a possibilidade de reeleição agora, ACM nem
ligaria: escolheria algum afilhado para o lugar de Imbassahy e estaria se
virando do avesso para elegê-lo.
A possibilidade de reeleição, existente nas grandes democracias do
mundo, dá ao eleitor a chance de premiar o político que considera satisfatório. Ao privilegiar o combate à reeleição, em vez do mau uso da máquina pública, erra-se o alvo.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: O velho Tio Sam Próximo Texto: José Sarney: Fusarium e guerra com camisinha Índice
|