São Paulo, sexta-feira, 01 de setembro de 2000

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GABRIELA WOLTHERS

O alvo errado

RIO DE JANEIRO - Com a proximidade das eleições municipais e a constatação de que os atuais prefeitos lideram as pesquisas de intenção de voto em várias capitais, crescem as críticas à possibilidade de reeleição. O argumento principal é que a disputa torna-se desleal, pois os prefeitos têm a máquina pública trabalhando a seu favor. Há uso da máquina? Sim. E, por isso, deve-se acabar com a reeleição? Não.
Qualquer um, mesmo os que odeiam política (aliás, principalmente estes!), sabe que o uso da máquina não é uma novidade que teve início com a possibilidade de reeleição.
O político que usa a máquina pública seguirá essa cartilha para eleger a si próprio, seu afilhado ou o poste da esquina. O problema não é do instituto da reeleição, mas do caráter do político, da Justiça -que não age com rigor suficiente- e do Congresso, que anistia as poucas multas que a Justiça aplica. Isso sem falar no eleitor que vota nesse tipo de político. Ou seja, culpados não faltam.
Há quem diga que o uso da máquina já existia, de fato, mas sua utilização foi exacerbada agora. Quem diz isso não deve se lembrar do "empenho" de Orestes Quércia em eleger Luiz Antonio Fleury Filho ou de Paulo Maluf em relação a Celso Pitta. Quércia e Maluf, aliás, gastaram sem limites para eleger suas "criaturas", endividando às alturas o poder público. Será que fariam o mesmo se soubessem que eles é que teriam depois que governar uma massa falida?
ACM não exerce cargo executivo desde 1994, mas alguém duvida que o governador Cesar Borges e o prefeito Antonio Imbassahy lhes devam suas eleições? Se não existisse a possibilidade de reeleição agora, ACM nem ligaria: escolheria algum afilhado para o lugar de Imbassahy e estaria se virando do avesso para elegê-lo.
A possibilidade de reeleição, existente nas grandes democracias do mundo, dá ao eleitor a chance de premiar o político que considera satisfatório. Ao privilegiar o combate à reeleição, em vez do mau uso da máquina pública, erra-se o alvo.


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