São Paulo, terça-feira, 01 de outubro de 2002

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PÂNICO NO RIO

Só pode ser qualificada como intolerável a demonstração de força que bandidos fizeram ontem ao "determinar" o fechamento do comércio e a paralisação de serviços na região metropolitana do Rio de Janeiro. Ao que consta, a ordem para parar a metrópole partiu da associação criminosa conhecida como Comando Vermelho e seria uma represália ao fato de alguns de seus líderes que estão presos em um batalhão da PM não estarem recebendo visitas.
Desta vez, a ação facinorosa não ficou circunscrita a áreas pobres, tendo atingido também bairros como Ipanema, Botafogo, Copacabana e Leme, e até outras cidades importantes, como Niterói e São Gonçalo.
Para o governo fluminense, o que houve foi um movimento orquestrado e com conotações políticas, dada a proximidade das eleições. Não há elementos para acreditar que o dito Comando Vermelho tenha candidato à Presidência ou ao governo do Rio, mas seria precipitado, por outro lado, descartar a possibilidade de interesses escusos terem magnificado o pânico que reinou na cidade para tentar obter dividendos eleitorais.
É inadmissível que a segunda maior cidade do Brasil e uma das maiores do mundo seja paralisada apenas porque traficantes condenados já não conseguem desfrutar de regalias na prisão.
O problema da criminalidade transcendeu há muito a esfera das divisões administrativas. O desafio lançado pelo tráfico já não é uma afronta apenas ao governo do Rio, mas ao próprio poder público, o que exige uma resposta enérgica de toda a sociedade brasileira.
Um grupamento social, para manter-se minimamente coeso e gerando riqueza, precisa ser capaz de organizar-se para ao menos evitar que marginais se assenhoreiem do ritmo da cidade e definam seu calendário. Nenhuma tarefa é tão básica quanto a de formar um Estado que não possa ser continuamente desafiado por criminosos. Infelizmente, é nesse imperativo que se está fracassando.


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