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CLÓVIS ROSSI
Mercado x país
SÃO PAULO - A julgar pela maioria das opiniões que os jornais vêm publicando, não há coisa mais fácil do
que governar o Brasil. É só escolher
um presidente do Banco Central que
agrade ao mercado e todos os problemas estarão solucionados.
É uma tese fascinante. Pena que
não combine com a realidade. Não
há presidente de BC de mais agrado
do mercado do que Armínio Fraga.
No entanto Fraga não conseguiu segurar o dólar, não conseguiu segurar
a inflação, não conseguiu alavancar
o crescimento.
Ou, em português claro e franco:
não deu certo. Só não fracassou no
pagamento das contas cobradas pelo
mercado, daí por que é o favorito deles. Não vai nessa constatação nenhuma crítica. Não creio que Fraga
aja por má-fé. É ideologia. Ele acredita no que faz, acredita que esteja ajudando o Brasil.
O diabo é que o problema do Brasil
não é o dólar a R$ 4 ou a R$ 3 -ou
mesmo a R$ 2. O problema do Brasil
são a miséria indecente, a obscena
distribuição de renda, o desemprego
elevado (e os baixos salários para a
maioria dos que estão empregados),
o pífio sistema educacional (público e
privado, como se verificou em pesquisa na semana passada), a debilidade
da atenção à saúde, a violência exacerbada, a degradação urbana e
quantos etc. o leitor quiser agregar.
Nada disso muda se o dólar sobe ou
se o dólar baixa. Pode até ser que, subindo a moeda norte-americana, o
pãozinho fique mais caro (afinal, o
trigo passou a ser mercadoria majoritariamente importada).
Mas, para o público, não existe essa
relação de causa e efeito, até porque o
pãozinho não fica mais barato quando o dólar cai, embora fique mais caro quando sobe.
A vida real explica, pois, por que
80% estão votando em candidatos
em que o mercado não confia. Será
sábio escolher um presidente do BC
que contrarie a massa?
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