São Paulo, terça-feira, 01 de outubro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Mercado x país

SÃO PAULO - A julgar pela maioria das opiniões que os jornais vêm publicando, não há coisa mais fácil do que governar o Brasil. É só escolher um presidente do Banco Central que agrade ao mercado e todos os problemas estarão solucionados.
É uma tese fascinante. Pena que não combine com a realidade. Não há presidente de BC de mais agrado do mercado do que Armínio Fraga. No entanto Fraga não conseguiu segurar o dólar, não conseguiu segurar a inflação, não conseguiu alavancar o crescimento.
Ou, em português claro e franco: não deu certo. Só não fracassou no pagamento das contas cobradas pelo mercado, daí por que é o favorito deles. Não vai nessa constatação nenhuma crítica. Não creio que Fraga aja por má-fé. É ideologia. Ele acredita no que faz, acredita que esteja ajudando o Brasil.
O diabo é que o problema do Brasil não é o dólar a R$ 4 ou a R$ 3 -ou mesmo a R$ 2. O problema do Brasil são a miséria indecente, a obscena distribuição de renda, o desemprego elevado (e os baixos salários para a maioria dos que estão empregados), o pífio sistema educacional (público e privado, como se verificou em pesquisa na semana passada), a debilidade da atenção à saúde, a violência exacerbada, a degradação urbana e quantos etc. o leitor quiser agregar.
Nada disso muda se o dólar sobe ou se o dólar baixa. Pode até ser que, subindo a moeda norte-americana, o pãozinho fique mais caro (afinal, o trigo passou a ser mercadoria majoritariamente importada).
Mas, para o público, não existe essa relação de causa e efeito, até porque o pãozinho não fica mais barato quando o dólar cai, embora fique mais caro quando sobe.
A vida real explica, pois, por que 80% estão votando em candidatos em que o mercado não confia. Será sábio escolher um presidente do BC que contrarie a massa?


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