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MARCELO BERABA
Terror eleitoral
RIO DE JANEIRO - O pavor voltou a tomar conta ontem do Rio. As crianças que foram de manhã para as escolas ligavam para os pais amedrontadas com as histórias de traficantes
que estariam espalhados pela cidade
barbarizando. Tudo boato.
Os adultos também se assustaram.
O comércio começou a fechar cedo,
obediente às primeiras ameaças que
teriam chegado ainda ao amanhecer.
Por volta do meio-dia, milhares de
lojas trancaram as portas e a cidade
tinha sido dominada. Por quem?
Havia dez dias, desde a prisão de
Elias Maluco, um dos acusados pelo
assassinato de Tim Lopes, que o Rio
estava estranhamente calmo, sem
aqueles sobressaltos que marcaram
todo o governo Garotinho e estes meses de Benedita da Silva.
O terror de ontem pode ser atribuído ao Comando Vermelho, que assim
estaria dando o troco em relação à
prisão de Elias e à remoção de alguns
de seus chefetes de Bangu 1 para um
batalhão da PM.
O problema de colocar na conta do
tráfico é que estamos às vésperas de
uma eleição difícil, já marcada pelo
terrorismo provocado pelas especulações com a moeda e pelas ameaças de
instabilidade e falência.
Não é a primeira vez no Rio que
uma campanha eleitoral é contaminada pelo terrorismo. Já tivemos arrastões nas praias e nos túneis, blecautes nos transportes coletivos, ondas de boatos desmoralizantes contra
vários políticos. Mas não me recordo
de nada semelhante desde o início do
processo de transição democrática.
Não sei se os serviços de inteligência
das polícias terão capacidade para
desvendar o que houve ontem. É difícil calcular ainda as consequências
eleitorais. Aparentemente, a maior
prejudicada é a candidata do PT ao
governo, Benedita da Silva, que esboçava uma reação e a esperança de
disputar o segundo turno. Não é provável que afete Lula, que nesta semana passou Garotinho (PSB) no Estado do Rio (39% a 36%).
Mas a pergunta é outra: se foi uma
armação eleitoral para assustar de
verdade e influenciar o voto, a quem
o terror de ontem beneficia?
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