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CLÓVIS ROSSI
Distribuindo culpas
SÃO PAULO - Convenhamos que houve uma certa maldade no tratamento que a maioria dos jornais deu
à queda da renda no ano passado,
apontando-a como uma marca do
primeiro ano da era Lula.
É até factualmente verdade, mas é
apenas a sétima parte da verdade.
Explico: a renda vem caindo desde
1996, ou seja, a rigor, desde o início de
outra era, a era tucana. Conforme
mostrou tabela publicada por esta
Folha, o trabalhador perdeu, na média, praticamente 19% de seu rendimento de 1996 a 2003.
Não é que a renda tenha oscilado,
não, senhor. Caiu ano após ano. O pecado de Lula, portanto, não é o de ter
inventado a redução da renda do assalariado, mas o de ter mantido uma
tendência que vinha da gestão anterior, embora, já na posse, tivesse prometido "mudança".
Pode-se até alegar, em defesa do governo, que não havia como operar
uma mudança, no quesito renda, nas
circunstâncias em que Lula assumiu.
Dá uma boa discussão, mas, agora, é
inútil voltar ao assunto.
Contra o governo, pode-se também
dizer que a sua cota no latifúndio da
desgraça do assalariado está dada
pelo fato de que manteve, na essência,
a política macroeconômica anterior.
Logo, se esta fez a renda baixar ano
após ano, sua continuidade só poderia causar nova queda.
Mas também não é bem assim. Políticas parecidas podem produzir resultados diferentes, dependendo das circunstâncias internas e externas em
que são implementadas. No caso da
renda, está havendo, neste ano, uma
leve recuperação, o que poderá levar
os jornais a dizer, em 2005, que a
marca do segundo ano Lula foi a recuperação da renda.
Será verdade, mas, de novo, será
parte da verdade. O fato central é que
a renda do assalariado brasileiro é escandalosamente baixa, tanto no governo Lula como no anterior e nos
anteriores dos anteriores, e nada
aponta para uma mudança significativa nesse quesito.
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